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COM O ‘NÃO’ DE PROFISSIONAIS A NOVAS OPORTUNIDADES, SETOR FINANCEIRO SOFRE ‘APAGÃO DE TALENTOS’

João Paulo - 25/03/2024 09:20 - Atualizado 25/03/2024

Uma startup ligada à área da finança precisava de um profissional para ocupar uma vaga de Controller Financeiro. Não podia ser alguém no início de carreira, tampouco uma pessoa que não tivesse familiaridade com gestão de risco. O salário era excelente e a promessa era de crescimento rápido, caso fosse demonstrado competência. Júlia Farias, headhunter contratada pela startup, ficou com a missão de ir em busca de algum profissional que se encaixasse nesse perfil. Foram meses de buscas no LinkedIn e pedidos de indicações de amigos. Mas todas as pessoas com nível de qualificação minimamente satisfatório que encontrou recusaram a proposta. Ela precisou, frustrada, dar um retorno negativo à empresa.

“O que entendi, trabalhando pela primeira vez para uma empresa desse setor, é que os profissionais qualificados que atuam nessa área não querem renunciar a seus atuais cargos. Eles procuram construir uma carreira mais sólida onde estão. Os disponíveis têm pouca experiência no currículo”, comentou a headhuter. Uma pesquisa recente divulgada pela PageGroup, consultoria global especializada em recrutamento executivo, apontou que oito em cada dez candidatos do setor financeiro não estão dispostos a trocar de emprego. Entre as principais causas para dizer “não” a novas propostas estão contrapropostas salariais da empresa da qual faz parte, aumento de salário e mudança para outras áreas da empresa.

“Estamos falando de um ambiente bem formal e tradicional, onde a experiência conta muito para crescer na carreira. Anos de experiência na mesma empresa é um ponto positivo. Então, não pega bem trocar escritório e instituição financeira em dois, três anos, isso não é bem-visto”, avalia Carlos Silveira, analista de investimentos. Com isso, o setor financeiro acaba não conseguindo preencher suas vagas, o que causa uma espécie de “apagão de talentos”, justamente porque as pessoas mais experientes não querem renunciar os seus empregos atuais.

Ainda conforme a consultoria global, está difícil encontrar assessores de investimentos, gestores de fundos, além de profissionais qualificados para atuar em controladoria, vendas e planejamento. Em meio a essa falta de profissionais qualificados, o setor financeiro demonstra ser uma área com muitas oportunidades, sem contar nos salários considerados competitivos.

A previsão era de que, em janeiro deste ano, 80 mil vagas fossem criadas, mas o número de oportunidades foi o dobro, de acordo com Ministério do Trabalho com base no Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged). Cresce também o número de brasileiros que passaram a investir. Em 2021, 31% dos brasileiros estavam investindo em produtos financeiros. No ano seguinte, esse percentual subiu para 36%, o que corresponde a um aumento de 8 milhões de pessoas que decidiram aplicar em fundos, títulos privados, moedas digitais e previdência privada, conforme dados da 6ª edição do Raio X do Investidor.

Mais pessoas investindo demanda mais profissionais qualificados para orientar e gerir os recursos dos investidores. Segundo Paulo Veneroso, CEO e co-fundador da Pro Educacional, a falta de qualificação dos profissionais de finanças pode comprometer a segurança e a rentabilidade dos investimentos dos clientes. “A complexidade do mercado financeiro exige conhecimentos técnicos e atualizados para a tomada de decisões estratégicas. Sem a devida qualificação, os profissionais podem cometer erros que impactam diretamente o patrimônio dos investidores”, alerta.

De acordo com ele, a falta de qualificação é mais evidente em regiões do interior do país, onde a oferta de cursos e treinamentos é mais escassa. Uma solução para isso, sugere, as instituições financeiras invistam na capacitação de seus colaboradores, oferecendo programas de treinamento e incentivos para a obtenção das certificações exigidas pelo mercado. “A busca por profissionais certificados é uma tendência que veio para ficar. Os investidores estão cada vez mais atentos à qualificação dos profissionais que irão gerir seus recursos, e as empresas que não acompanharem essa demanda podem perder espaço no mercado”, conclui Veneroso.

Imagem de Steve Buissinne por Pixabay

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