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JUROS NOS EUA, CHINA E FALAS DE LULA: O QUE EXPLICA A SAÍDA DE R$ 21,2 BILHÕES DA BOLSA EM 2024

João Paulo - 24/03/2024 07:58

Os investidores estrangeiros já retiraram R$ 21,2 bilhões da Bolsa de Valores desde o começo de 2024. No trimestre atual, se esse cenário permanecer, o mercado de ações do País caminha para colher o pior desempenho para o período, desde 2020, quando a economia global começou a ser chacoalhada pela pandemia de covid e a saída de recursos somou R$ 64,3 bilhões. Em 2024, são dois os grandes vetores que explicam esse comportamento dos investidores internacionais. O mais importante tem a ver com o cenário externo e as mudanças na expectativa do mercado para o rumo das taxas de juros nos Estados Unidos. Em menor grau, pesam também as tentativas mais claras do governo brasileiro de interferência na economia.

Na virada do ano, os investidores se mostraram otimistas e chegaram a prever seis cortes nas taxas de juros dos Estados Unidos. Mas esse cenário foi sendo abandonado conforme os números divulgados apontavam para uma economia mais forte do que o esperado, o que indica um caminho mais difícil para o Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA) levar a inflação para a meta de 2%.

Na quarta-feira, 20, o Fed reforçou que o seu plano de voo é mais modesto. O banco central dos Estados Unidos manteve as taxas de juros no intervalo de 5,25% a 5,50% e sinalizou que devem ser realizados três cortes neste ano. Juros mais altos nos EUA tendem a atrair recursos aplicados em mercados emergentes, considerados mais arriscados, como é o caso do Brasil. “Houve uma mudança muito abrupta das expectativas de corte das taxas de juros nos Estados Unidos. E foi uma mudança guiada por um otimismo com os EUA”, afirma Marcela Rocha, economista-chefe da Principal Claritas.

De fato, os números dos Estados Unidos mostram uma economia bastante resiliente. O próprio Fed aumentou a projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) norte-americano deste ano de 1,4% para 2,1%. A mediana para núcleo do índice de preços de gastos com consumo (PCE) subiu de 2,4% para 2,6%. “Desde o início do ano até agora, o que estamos vendo é o mercado reprecificando os juros nos Estados Unidos”, diz Gabriela Joubert, estrategista-chefe do Banco Inter.

Com a mudança de rumo nos Estados Unidos, a Bolsa brasileira passou a enfrentar uma espécie de ressaca. No fim de 2023, quando havia a expectativa por um ciclo maior de queda de juros nos EUA, os mercados emergentes receberam uma enxurrada de recursos de fora. Em novembro e dezembro, a entrada de recursos foi de R$ 21 bilhões e R$ 17,5 bilhões, respectivamente. “Além da dúvida do corte dos juros, os EUA estão muito atrativos. É uma economia crescendo, uma economia forte. Uma das coisas que explicam é simplesmente o comparativo: por qual razão o investidor vai tomar risco se os EUA estão com uma conjuntura favorável”, afirma Marcela.

A volta do estrangeiro para a Bolsa brasileira, portanto, vai depender dos sinais da economia dos EUA e, consequentemente, das expectativas para os juros norte-americanos. Por ora, descontadas as oscilações diárias, como a entrada de quase R$ 3 bilhões em 15 de março, os analistas dizem que o cenário segue o mesmo do observado até agora.

Foto: Imagem de LEANDRO AGUILAR por Pixabay

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