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QUASE METADE DA AMAZÔNIA PODE SOFRER TRANSIÇÃO RUMO AO NÃO RETORNO ATÉ 2050, DIZ PESQUISA

João Paulo - 15/02/2024 09:45

Um grupo de cientistas brasileiros estima que, até o ano de 2050, de 10% a 47% da floresta amazônica estarão expostos a ameaças graves e poderão sofrer uma transição de ecossistema, com perda de resiliência da floresta e conversão a outras formas do bioma, incapazes de cumprir o papel de sumidouro de carbono desempenhado pela amazônia. É o chamado ponto de não retorno, quando a floresta já não encontra formas de retroalimentação e colapsa, total ou parcialmente, convertendo-se em outras formas de existência biológica.

O ponto de não retorno da amazônia é um dos principais focos de atenção na discussão científica sobre mudanças climáticas, em razão dos impactos para o clima, que extrapolam os limites do bioma, para a emissão de CO2 e para o modo de vida dentro e fora da região amazônica. Estimativas levadas em conta em outros estudos apontam a possibilidade de não retorno com um desmatamento de 20% a 25% da floresta. A perda de vegetação está, hoje, em uma faixa de 14% a 20%, dependendo do critério utilizado e da área analisada.

O governo Lula (PT) prometeu zerar o desmatamento da amazônia até 2030, uma meta que compõe o compromisso brasileiro com o Acordo de Paris. O acordo, definido em 2015 no âmbito da ONU (Organização das Nações Unidas), busca limitar o aquecimento global, com perspectiva de que o aumento da temperatura não ultrapasse 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais. Nos últimos cinco anos, a amazônia perdeu 54,6 mil km2 em território brasileiro, segundo dados oficiais do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). O ritmo de aumento da devastação foi interrompido no primeiro ano do governo Lula.

O novo estudo conduzido pelos pesquisadores brasileiros afirma que a amazônia está cada vez mais exposta a pressões, com aumento de temperaturas, secas extremas, desmatamento e fogo, mesmo nas áreas mais centrais ou nas mais remotas. O colapso do bioma pode ser local, regional ou mesmo total, o que agravaria as mudanças climáticas, cita o estudo. É preciso interromper o desmatamento e a degradação e expandir iniciativas de reflorestamento, afirmam os pesquisadores.

O artigo científico foi publicado nesta quarta-feira (14) na revista Nature. O estudo é liderado pelos pesquisadores Marina Hirota e Bernardo Flores, da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), e tem participação de cientistas do Brasil (como Carlos Nobre, José Marengo e Erika Berenguer), Estados Unidos e Europa. A pesquisa teve financiamento do Instituto Serrapilheira. Temperaturas mais altas, secas extremas, desmatamento e fogo enfraquecem mecanismos que garantem a resiliência da floresta, com influência direta no ciclo de chuvas. Isso aproxima o bioma da “transição crítica”, do ponto de não retorno. Entre os limites críticos citados pelos pesquisadores, estão um aumento de temperatura acima de 1,5°C e desmatamento acumulado de 20% da cobertura florestal.

Foto: Divulgação

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