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SELIC: QUAIS OS RECADOS DO COPOM E O QUE ESPERAR PARA A TAXA DE JUROS DIANTE DO CICLO DE CORTES DO BC

João Paulo - 03/11/2023 08:20 - Atualizado 03/11/2023

O Comitê de Política Monetária (Copom) anunciou mais um corte de 0,50 ponto percentual (p.p.) da taxa básica de juros (Selic) na última quarta-feira (1º), para 12,25% ao ano. A decisão já era esperada pela maior parte dos economistas do mercado financeiro. Com essa, que foi a terceira redução seguida por parte do Banco Central do Brasil (BC), a taxa chega ao seu menor patamar desde maio de 2022, quando estava em 11,75% ao ano.

Em comunicado oficial, o Comitê do BC afirmou que a decisão foi aplicada considerando o processo de desinflação, os cenários econômicos avaliados no Brasil e no exterior e o balanço de riscos. Reforçou ainda que haverá redução dos juros “de mesma magnitude nas próximas reuniões”. Nesta reportagem, você vai entender os principais recados do Copom e o que dizem especialistas sobre os seguintes pontos:

  • o exterior ‘adverso’;
  • a meta fiscal;
  • inflação e atividade econômica;
  • e o futuro da Selic.

A sinalização de novos cortes na Selic já era esperada por grande parte do mercado. No comunicado do Copom, chamou a atenção de economistas o tom de cautela adotado pela autoridade monetária, que abriu o texto alertando para um ambiente externo “adverso”. “O cenário internacional ganhou destaque em três novas situações, e a palavra ‘cautela’ foi mencionada duas vezes”, observa a economista-chefe da Tenax Capital, Débora Nogueira.

No texto divulgado na quarta-feira, o Comitê mencionou:

  • a elevação das taxas de juros de prazos mais longos nos Estados Unidos;
  • a resiliência dos núcleos de inflação em níveis ainda elevados em diversos países;
  • e as novas tensões geopolíticas no mundo (em referência à guerra entre Israel e Hamas).

Juros mais altos nos Estados Unidos tendem a se refletir em alta na cotação do dólar no Brasil, uma vez que há saída da moeda do país, com o objetivo de buscar a melhor remuneração lá fora. Também entra nesse contexto os receios do Copom em relação à inflação mundial. Na prática, uma inflação mais persistente tende a exigir maior aperto monetário pelos bancos centrais.

Em relação ao conflito no Oriente Médio, a principal preocupação é sobre o aumento do preço do petróleo, já que a região é uma das mais importantes produtoras e exportadoras da commodity do mundo. A alta do petróleo tem como consequência a elevação do preço dos produtos derivados, como gasolina e diesel — afetando diretamente a inflação. Por isso, avalia o Comitê do BC, “o cenário exige atenção e cautela por parte de países emergentes”.

“Precisamos monitorar o cenário internacional e as mudanças recentes em decorrência dos conflitos geopolíticos. Isso preocupa, mas ainda não é motivo de mudança de cenário. É o caso de acompanhamento”, analisa Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating.

No comunicado da última quarta-feira, o Copom voltou a ressaltar “a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para ancoragem das expectativas de inflação” e “para a condução da política monetária”. “O Comitê reforça a importância da firme persecução dessas metas”, disse o colegiado. Nos últimos dias, se acentuou a discussão sobre uma possível alteração da meta de zerar o déficit das contas públicas em 2024. Isso aconteceu após o presidente Lula (PT) dizer, em conversa com jornalistas, que o país não precisa de uma meta fiscal zero no próximo ano.

“Eu não quero fazer corte de investimentos de obras. Se o Brasil tiver um déficit de 0,50%, o que que é? De 0,25%, o que é? Nada”, disse Lula na última semana. Após as declarações do presidente, começou um debate interno no governo sobre uma mudança na meta fiscal para 2024. Nesta quinta-feira (2), o comentarista da GloboNews Gerson Camarotti informou que, segundo fontes, o governo já decidiu pela mudança da meta para o ano que vem, com previsão de déficit em torno de 0,50% do PIB. A expectativa é que seja apresentada uma emenda ao Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) no dia 16 de novembro.

A mudança não agrada o mercado. Na visão de especialistas, uma alteração na meta tende, entre outros pontos, a diminuir a credibilidade do arcabouço fiscal logo em seu primeiro ano de execução. “Em particular, uma eventual decisão pela alteração da meta fiscal tiraria a força do arcabouço, ao evitar que os gatilhos sejam acionados”, aponta o estrategista-chefe da Warren Rena, Sérgio Goldenstein, em análise pós-Copom.

Foto: Agência Brasil

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