Inaicyra Falcão tem uma carreira gigantesca. Mulher negra, baiana, é professora doutora em educação, pesquisadora do corpo em dança e intérprete soprano dramática. Ocupou a universidade quando isso ainda era algo muito estranho para corpos negros. Todas estas facetas serão celebradas no projeto Ojo Odun, que comemora 50 anos de carreira na dança e nos canto afrodiaspóricos, em evento que acontece de hoje (23) a domingo (29), no Teatro Molière, com roda de conversa, oficina e concerto.
A programação se inicia hoje, às 19h, com o bate-papo Corpo e Ancestralidade, inspirado no título de livro homônimo Corpo e Ancestralidade: uma Proposta Pluricultural de Dança-arte-educação, escrito durante sua tese de doutorado na Faculdade de Educação da USP, em 1996. O trabalho é considerado uma referência no meio artístico e educacional quando o assunto é a pesquisa de estudos criativos das artes do corpo a partir da herança mitica afrodiaspórica.
A roda de conversa é gratuita e também terá participação do bailarino Negrizu, outro veterano da dança negra baiana, com quem a artista já se cruzou pelo caminho e teve a honra de performar em 2021, no videoarte Ijó Mimó, dirigido e concebido pelo artista visual Ayrson Heráclito. O bate-papo tem mediação de Nadir Nóbrega, doutora em dança e mestra em artes cênicas pela UFBA, com quem Inaicyra conviveu nos tempos do Ballet Brasil Tropical. “Meu contato com a arte começou ainda bem jovem. Com meu pai, que era marceneiro e escultor, e minha avó, dona Senhorinha. Foi ali que comecei meu contato com os cantos, a dança. E levei para minha vida inicialmente ao entrar na escola de Dança da Ufba. Anos mais tarde e também passei a trabalhar com o canto”, conta Inaicyra.
Ela é filha de Deoscóredes Maximiliano dos Santos (1917-2013), o Mestre Didi, sacerdote máximo do culto aos egunguns, da tradição iorubá na Ilha de Itaparica. Etambém um dos mais importantes artistas plástica da tradição afrobrasilçeira. E sua avó, Maria Bibiana do Espírito Santo, mãe Senhora – terceira a assumir o comando do terreiro Ilê Axé Opó Afonjá. “O culto ao orixá me leva desde criança a ter contato com as tradições africanas, na música, dança, comida, figurino. Era tudo integrado e já aprendi assim. Lembro que criava histórias enquanto dançava nos xirês e nos palco. Sempre fui muito dramática, sempre tive um subtexto”, diz Inaicyra, que enfatiza esse ‘subtexto’ enquanto deixa a sua memória viajar nos 72 anos de vida.
A programação segue exposição de fotografias de momentos da carreira da artista, que será exibida durante . E com a oficina Corpo em Diáspora, que ocorre de 27 a 29 de maio, de 10h às 14h, ministrada pela doutora em artes da cena Luciane Ramos Silva, no Espaço Silvestre – mas que já está com inscrições encerradas.
Foto: divulação