Uma semana de trabalho com apenas quatro dias úteis. A ideia pode parecer inusitada, mas já é realidade em alguns países, inclusive no Brasil, e tem sido saudada como “o futuro da produtividade”. Os entusiastas da semana de trabalho mais curta acreditam que o modelo é o mais próximo do ideal, pois permite um maior equilíbrio entre a vida profissional e a pessoal. A dinâmica é simples: os profissionais trabalham quatro dias por semana, recebendo o mesmo salário e ganhando os mesmos benefícios da jornada mais longa.
Um detalhe importante é que a carga de trabalho também não muda, ou seja, os colaboradores não trabalham mais horas nos quatro dias úteis. A ideia central, portanto, é que as empresas passem a otimizar o tempo de seus colaboradores, reduzindo o número de reuniões e incentivando mais o trabalho independente, por exemplo. Para Herman Bessler, CEO e fundador do Templo.cc, hub de inovação adepto da semana de quatro dias úteis, o que mais chama atenção no novo modelo de trabalho é que as empresas que o adotam passam a produzir mais em relação ao que produziam em cinco dias de trabalho.
“A necessidade de cocriação e diálogo, a motivação do dia de folga extra e o sentimento de pertencimento respondem por este aumento de performance contraintuitivo. A verdade é que nenhum de nós é capaz de trabalhar com foco de forma produtiva por 40h/semanais. Fazemos pausas em redes sociais, participamos de reuniões desnecessárias e executamos tarefas automatizáveis. Há muito o que otimizar”, comenta. É importante lembrar que a diminuição gradual das horas trabalhadas semanalmente acontece desde o final do século 19. Portanto, o modelo de semana com quatro dias de trabalho não é tão radical assim.
Bessler afirma que a proposta de um novo padrão é também um movimento maior, de transformação cultural das empresas. “A maioria dos profissionais de escritório está insatisfeita, os números de demissões voluntárias estão explodindo e as taxas de turnover estão nas alturas”, diz o CEO. Um estudo sobre produtividade dos profissionais realizado pela Stanford University, por exemplo, apontou que funcionários que se sentem sobrecarregados são menos produtivos.
4 dias de trabalho na prática
Gian Martinez, CEO e cofundador da startup Winnin, que mapeia dados de consumo online de vídeo, também viu resultados positivos depois que a empresa aderiu à semana de quatro dias de trabalho. “Com base nos resultados do nosso formulário de satisfação e performance, o experimento foi um sucesso. Fizemos uma comparação com os dados coletados antes do experimento ser implementado, e todos os pontos em análise tiveram um crescimento positivo”, explica.
Entre os dados analisados pela Winnin houve um crescimento de 17,33% no equilíbrio entre vida pessoal e profissional. No quesito produtividade, qualidade e cumprimento das entregas, prazos e reconhecimento, o crescimento foi de 5,68%. Já em relação à saúde mental e física, lazer, amigos e família, o aumento foi de 41,93%.
Desafios para a mudança
É claro que implementar uma semana de trabalho de quatro dias requer superar alguns obstáculos, pois é preciso que sejam corretos o suporte, a tecnologia e a cultura do local de trabalho. Também é fato que nem todos os tipos de cargos e funções conseguem ser adaptados para este modelo de trabalho. “Muitas funções essenciais para o bom funcionamento da nossa economia passam por atendimento ao público – como caixas, entregadores, motoristas de aplicativo, atendentes, trabalhadores do setor de serviços como um todo. Para essas funções, a semana de quatro dias representaria um complicador significativo, já que o objetivo da função é necessariamente afetado pelo volume de horas de atendimento. O mesmo ocorre para profissionais liberais do setor de saúde, por exemplo”, explica Herman Bessler.
Como fazer a migração
Para os interessados em implementar o modelo de quatro dias de trabalho em suas equipes, Bessler indica começar dialogando com os colaboradores, especialmente para conferir se todos têm interesse na iniciativa. Outros pontos a serem seguidos são: não diminuir salários nem aumentar a carga horária nos dias de trabalho, analisar os resultados da experiência e fazer um planejamento semanal para otimização das tarefas: “O tempo extra advindo da otimização das formas de trabalhar tornará mais fácil o desafio de entregar o mesmo resultado com 20% menos horas de trabalho”, finaliza.
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