Um velho conhecido das modalidades de compras chamou atenção dos consumidores nesse ano de 2021: o consórcio. Segundo dados da Associação Brasileira das Administradoras de Consórcios (Abac), o número de novas cotas acumuladas de janeiro a novembro de 2021 avançou 14,4% sobre as 2,77 milhões de adesões registradas no mesmo período do ano anterior. Especialistas creditam esse crescimento ao despertar do consumidor para a necessidade de pensar no futuro e à busca por uma alternativa aos financiamentos, diante da alta da taxa Selic.
Só no mês de novembro três recordes foram atingidos no segmento: o número de novas cotas, que chegou a 3,17 milhões no acumulado de janeiro a novembro; o valor de negócios, que ultrapassou a marca dos R$ 202,34 bilhões, 34,4% acima do acumulado no mesmo período de 2020; e o total de consorciados ativos, que em novembro atingiu 8,40 milhões de participantes, o que representa um crescimento de 8,9% quando comparado ao mesmo mês do ano anterior.
O presidente executivo da Abac, Paulo Roberto Rossi, explica que esse não é um crescimento pontual, é, na verdade, o reflexo de uma mudança no perfil de compra do consumidor. Para ele, a pandemia deixou o brasileiro mais atento às suas finanças e à necessidade de pensar no futuro. Rossi acredita ainda que os recordes do segmento confirmam a postura de confiança, credibilidade e conhecimento das características da modalidade por parte do consumidor.
“Acreditamos que com essa nova postura, mais consciente das responsabilidades inerentes às boas práticas da educação financeira e do planejamento das finanças pessoais, o consumidor tem procurado investir parte de sua renda de forma mais conservadora ao assumir novos compromissos financeiros. E o consórcio tem sido uma das opções mais procuradas e utilizadas para aquisição de bens como imóveis, veículos ou contratação de serviços”, afirma Rossi.
Para trabalho
Só no setor de automóveis, por exemplo, os consórcios corresponderam a 34,3% das compras de utilitários e camionetes no acumulado de janeiro a novembro, isso significa que a cada três veículos comercializados nesse período, um deles foi através de consórcio. Já entre os veículos pesados, a presença da modalidade ficou em 26,1%. O segmento de duas rodas foi o que apresentou maior presença da modalidade, 52,7% de potencial participação, ou seja, uma a cada duas motocicletas foi vendida via consórcio no país. Já no mercado de imóveis, a participação ficou em 8,7% das compras.
O presidente da Abac cita como um dos principais motivos da busca pelo consórcio o investimento patrimonial. “É o caso, por exemplo, de motoboys e mototaxistas que querem melhorar seu instrumento de trabalho, empresários do agronegócio que buscam aumentar a frota e até pessoas que querem diversificar o investimento com um imóvel como fonte extra de renda”. Mas Rossi faz um alerta: o consórcio é uma modalidade para quem está disposto a se planejar.
“O perfil do consumidor do consórcio é diferente. Financiamento é para quem quer o produto na hora. Já o consórcio é para quem já entendeu a necessidade de um planejamento financeiro para construir algo para o futuro. Porém, com a elevada taxa de juros, com certeza tem consumidor que não consegue fechar um financiamento e acaba recorrendo ao consórcio, mas ainda não conseguimos saber esse número”, esclarece.
O economista e consultor financeiro Daniel Lima não tem dúvidas de que a busca por redução nos custos das operações financeiras é um fator que tem levado o consumidor a encontrar no consórcio uma modalidade mais atraente, uma vez que ele não tem juros, mas sim uma taxa administrativa.
“Isso faz com que o consórcio apareça como uma alternativa ao financiamento, que deixou de ser atrativo não só por conta da alta dos juros, mas também pela necessidade da entrada na aquisição do bem. Essa entrada vai depender da renda do consumidor. E o consumidor está mais consciente com o uso de seu dinheiro, analisando a melhor alternativa no mercado financeiro para obter o menor custo de sua operação”, explica.
Para o também economista Alex Gama, além do menor custo, a vantagem do consórcio quando comparado ao financiamento é que o consumidor vai pagar por algo que ainda não está se deteriorando e não vai ter, somado às prestações, custos com manutenção e combustível, por exemplo. O economista alerta, no entanto, para o risco da carta do consórcio acabar não sendo suficiente para adquirir o bem ao final do processo.
“Como os preços estão subindo muito, uma pessoa, por exemplo, que tinha uma carta de R$ 50 mil para comprar um carro popular, hoje já vai ter que desembolsar R$ 10 mil ou R$ 20 mil para adquirir o mesmo automóvel. Então o que era uma alternativa pode acabar sendo uma ilusão”, alerta o economista. A dica de Alex para quem pensa recorrer a um consórcio é observar as taxas, os valores e as características da modalidade e do grupo. Buscar instituições financeiras de confiança, compará-las e fazer simulações também pode, segundo o economista, ajudar na hora de tomar a decisão.
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