Ao comprar 90% das ações do Cruzeiro Esporte Clube por R$ 400 milhões, Ronaldo Fenômeno, que hoje é um craque nos investimentos, abriu a temporada de venda de clubes brasileiros para investidores. Não se sabe ainda se foi um bom negócio para o clube, sabe-se, no entanto, que o ex-jogador vai ter de investir R$ 400 milhões nos ativos do Cruzeiro e ficar com responsabilidade solidária em relação à sua dívida de quase R $1 bilhão.
O modelo tem vantagens e desvantagens e tanto o Bahia quanto o Vitória, que são associações civis sem fins lucrativos, deveriam começar a avaliar a hipótese de transformarem-se em uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF), estrutura específica que o Congresso Nacional criou e que permite aos clubes fundar uma empresa e transferir todos os ativos do futebol para ela.
A maior vantagem é óbvia, pois o novo modelo acaba com a possibilidade de dirigentes amadores e despreparados assumirem o clube, tratando-o como se fosse uma propriedade privada, ou com fins políticos. Se forem transformados em Sociedade Anônima, Bahia e Vitória terão de ter cargos como CEO, diretor de futebol e diretor financeiro ocupados por profissionais. Não vai dar mais para usar o clube como trampolim político ou para fazer negócios escusos, a gestão do clube será feita do mesmo modo que é feita a gestão de uma empresas.
A outra vantagem é que a sociedade anônima de futebol nasce sem dívidas, embora tenha de ser solidária com as dívidas existentes, ou seja, 20% das receitas da Sociedade Anônima terá de ser destinada ao pagamento dessas dívidas. Mas, com o nome limpo no mercado, poderá atrair investidores, internos e externos, que trarão dinheiro novo para o clube.
As desvantagens também são óbvias. Sendo uma associação civil sem fins lucrativos, como é hoje, Bahia e Vitória não podem ir à falência e as dívidas vão se acumulando ao longo do tempo. Mas se forem transformados em sociedade anônima, os clubes terão de dar lucro e poderão ir à falência, caso não cumpram suas obrigações ou deem prejuízos por muito tempo.
Há quem diga que a desvantagem maior seria o interesse do investidor que comprou o clube não estar em linha com o interesse da torcida. Voltado só para o lucro, o clube-empresa pode não privilegiar a contratação de jogadores ou a manutenção deste ou daquele craque. É possível, mas isso não é o que já acontece hoje, mesmo o clube não sendo uma empresa.
A verdade é que a administração dos clubes baianos vem deixando a desejar e o desempenho de Bahia e Vitória este ano demonstra que está na hora de repensar o modelo de gestão de ambos. Nesse cenário, a avaliação de novas possibilidades de gestão é imprescindível. (EP – 20/12/2021).