Nos primeiros dias de dezembro, a Acelen, empresa criada pelo fundo Mubadala Capital, vai assumir o controle da Refinaria Landulpho Alves (RLAM), a maior empresa da Bahia, concretizando o processo de privatização e abrindo novas perspectivas para o setor industrial baiano. A refinaria vai permanecer inicialmente sob operação assistida da Petrobras, sob a condição de prestadora de serviços, mas haverá novas diretrizes ambientais e comerciais e só o fato da introdução de um grande player privado no segmento de refinarias, até aqui um monopólio do Estado, é um sinal de que a cadeia produtiva do setor vai mudar.
Não que isso possa influenciar a política de preços dos combustíveis, afinal a Refinaria de Mataripe, embora respondendo por cerca de 15% do refino nacional, não tem condições de influir nos preços, mas vai influenciar positivamente o processo, pois vai aumentar a produção interna, realizar investimentos e tornar o refino mais produtivo e competitivo.
Fontes ligadas à empresa afirmam, desde logo, sua intenção de produzir a plena carga, realizando investimentos e desgargalamentos, buscando atingir mais de 90% da capacidade operacional, que hoje está em cerca de 60%. Operando com capacidade plena, a Refinaria de Mataripe, que representa mais de 30% da produção industrial do Estado, vai alavancar a indústria baiana, cuja participação no PIB vem caindo, exatamente por conta da política da Petrobras de trabalhar com capacidade ociosa. A refinaria, que desde 2017 não tem qualquer investimento, fará, já no segundo semestre de 2022, uma parada para investir na sua modernização.
Aliás, a economia baiana vai se beneficiar com a privatização, não só com o aumento da produção e a ampliação dos investimentos, mas também com o aumento dos impostos, os benefícios na simplificação do processo de contratação de fornecedores e a possibilidade de alongamento na cadeia produtiva, de modo a estimular a verticalização da produção e o aproveitamento de novos produtos.
O principal mercado da refinaria permanece sendo a região Nordeste e a empresa pretende aumentar as relações interindustriais com o Polo Industrial de Camaçari e com toda a economia baiana, e oferecer oportunidades de negócios aos fornecedores locais. Segundo essas fontes, o objetivo da empresa não será apenas o refino e outros investimentos podem ser realizados no setor de energia, inclusive energia renovável, além disso, existe a intenção de desenvolver conhecimento local na cadeia de óleo e gás e com isso fomentar o desenvolvimento.
A chegada do primeiro player privado de grande porte no setor de refinarias vai gerar benefícios e dinamizar a economia, mas é fundamental saber qual a sua estratégia e se ela está de acordo com o futuro. É aqui que a empresa reafirma que sua estratégia é trabalhar preservando o meio ambiente, buscando a melhoria da eficiência energética, utilizando a energia renovável e adotando padrões modernos de produção. A estratégia passa por buscar uma transição gradual de investimento em alto carbono para um investimento em baixo carbono, com foco num processo de produção ambientalmente limpo.
Com a privatização, o Brasil passa a ter o primeiro grande player privado no setor de refinarias e a Bahia se fortalece com as perspectivas de ampliação de sua base industrial e do PIB.
Acelen: mão de obra e impostos
Em relação aos trabalhadores, fontes ligadas a Acelen, empresa que vai assumir a RLAM, afirmam que no processo de venda ficou garantida a estabilidade para todos os empregados, com a Petrobras afiançando o aproveitamento em outras unidades dos que desejam permanecer na estatal, mas o objetivo é manter todos os trabalhadores. E reiteram a intenção de ampliar a geração de riqueza no estado, privilegiar fornecedores locais e apoiar iniciativas sociais, em cooperação com as prefeituras municipais. E de ampliar a arrecadação de impostos, como o ICMS e ISS, e de atuar em cooperação com o governo do estado, no estímulo ao aumento da produção local e ao desenvolvimento de novos negócios.
Publicado no jornal A Tarde em 25/11/2021
Foto: divulgação