O carnaval pode fazer dançar a boa relação entre o governador Rui Costa do PT e o prefeito Bruno Reis do DEM. A boa relação foi o destaque nacional no combate à Covid 19, mostrando que gestores de partidos adversários podem se unir em benefício da população. Mas agora a situação pode desandar. O problema é que o governador Rui Costa dificilmente aceitará a ideia de realizar o carnaval nos moldes atuais, com dois milhões de pessoas nas ruas vindas de todas as partes do Brasil, com o sério argumento de que a pandemia não acabou e que os países europeus, inclusive aqueles em que a vacinação está avançada estão enfrentando uma quarta onda de contágios e voltando a impor restrições à população.
O prefeito Bruno Reis, apoiado no fato de que Salvador está mais avançada no processo de vacinação e pressionado por um grupo de vereadores que defende os empresários do setor, tem adotado uma postura pró carnaval, embora reitere a todo momento que reconhece a incerteza epidemiológica. Ocorre que vereadores, empresários do setor e alguns gestores subordinados ao prefeito afirmam que é possível realizar o controle da vacinação utilizando os portais de entrada da festa, propondo um carnaval de vacinados que assim evitaria a transmissão do vírus, uma tese que, convenhamos, é impossível defender no atual cenário.
Apesar disso, os membros do Conselho Municipal do Carnaval (Comcar) e outras entidades favoráveis à realização do evento em 2022 realizaram uma carreata na região do Farol da Barra, em Salvador, defendendo a retomada da festa no próximo ano. Entende-se a situação dos empresários do setor que anseiam por retomar suas atividades, mas a posição deles e a defesa dos vereadores estão criando um cenário em que o governador e o prefeito começam, pela primeira vez, no combate à pandemia, a se desentender fazendo o elemento político prevalecer em uma discussão que parece ser técnica.
Na verdade, há vereadores e deputados de oposição querendo usar o carnaval de forma política, para antecipar o embate entre o governador e o prefeito que fatalmente vai acontecer a partir de março de 2022. Esse tipo de disputa parece ser ruim para ambos os gestores que só terão a perder num conflito em que todos sairão perdendo. A realização do carnaval nos moldes atuais pode até agradar a uma pequena parte da população, mas pesquisas indicam que a maior parte dela é contra sua realização e a quase totalidade das entidades representativas de empresários não ligados ao setor carnavalesco se manifesta contrária à realização da festa.
A argumentação é que se a realização do carnaval resultar em nova onde de Covid 19, haverá novos fechamentos de todas as atividades econômicas e até a hipótese de retorno do famigerado lockdown. Há entre os assessores do governador e do prefeito, aprendizes de marqueteiro, que afirmam ser bom politicamente o embate entre os dois, mas ambos são políticos experimentados e dificilmente deixarão essa querela prosseguir.
O prefeito Bruno Reis já afirmou que não fará o carnaval sem a participação do Estado e propôs uma conversa com o governador para estabelecer um novo modelo, com festas localizadas e segmentadas, que é o que todos aguardam. O governador, por outro lado, dificilmente seguirá com a polêmica e deve buscar uma solução negociada para a realização de um carnaval em outro molde. Mas se isso não acontecer, quem vai perder é a cidade e a decantada capacidade de gestores de partidos adversários trabalharem juntos em prol da população vai dançar e só vai sobrar a política tradicional, onde cada um puxa a brasa para sua sardinha. (EP – 22/11/2021)