Em entrevista ao Jornal Correio, Rafael Valente, vice-presidente do Grupo Civil e diretor de Gestão Sustentável da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário da Bahia (ADEMI-BA), afirmou que o déficit habitacional e a área de infraestrutura são oportunidades para o crescimento da indústria da construção no Brasil. O vice presidente acredita que a atividade precisa superar desafios no cenário macroeconômico, que vão da alta nos índices de desemprego – que inibem o mercado consumidor –, aumento na taxa básica de juros e a aceleração nos índices de inflação.
Fazendo uma comparação entre o mercado imobiliário brasileiro e o chinês, Rafael Valente lembra que boa parte da população no país asiático já tem pelo menos um imóvel, enquanto aqui existe uma grande demanda por ser atendida ainda. “O déficit habitacional que ainda temos aqui no Brasil gera muitas oportunidades, principalmente na faixa do antigo Minha Casa Minha Vida, que agora mudou para Casa Verde Amarela”, explica.
Além disso, o vice-presidente do Grupo Civil acrescenta ainda a demanda por infraestrutura que existe no país. Ele lembra que o marco do saneamento foi bastante importante para o setor como um todo, mas ressalta as oportunidades de investimentos que a Civil enxerga através das parcerias público-privadas (PPPs) ou em concessões. Por opção, a empresa não atua em obras públicas, diz Valente. Mas tem buscado aproveitar as oportunidades que surgem com as novas modalidades.
“A Civil, por opção, não faz obra pública, por diversos fatores”, afirma. “Teve tudo que a gente viu na Lava Jato, mas além disso, é um cliente que, por conta lei, não valoriza tanto o nosso trabalho. Por força da lei, o poder público contrata pelo menor preço. Nem sempre eu terei isso, mas terei a melhor solução”, pondera. “Quando surgem as PPPs e concessões, uma empresa privada vence aquele processo e nos contrata, aí é uma lógica que nós compreendemos”. Segundo ele, neste formato, a empresa tem conseguido atuar em grandes obras.
Desafios
Valente lembra que a pandemia provocou um cenário de desabastecimento de materiais, ao mesmo tempo em que a demanda por produtos do setor aumentou. “A pandemia fez com que as pessoas ficarem mais tempo em casa e elas olharam mais para os seus lares, buscando ajusta-los”, lembra. Esse movimento levou alguns a procurarem outros lugares para viver, ou a investir em reformar a casa. “O aumento da demanda em conjunto com indústrias fechadas ou com produção reduzidas em virtude da pandemia gerou desabastecimento, aumentos de preços e inflação de materiais”, explica. A inflação do setor, medida pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), indicam uma alta de quase 27% em doze meses, atingindo uma máxima histórica.
Segundo Rafael Valente, em alguns casos, as empresas não conseguem repassar as variações nos custos e acabam tendo que absorver prejuízos. Mas ele lembra ainda que houve casos de materiais que subiram muito acima da inflação. Foi o caso, por exemplo, do aço, que chegou a dobrar de preço. “O grande vilão da inflação na construção foi o aço. A gente teve orçamentos que, aplicando o INCC (inflação da construção), os aumentos eram 40% acima do índice”, conta.
A boa notícia, diz, é que aparentemente o pior já passou em relação à alta do índice. Por outro lado, completa, o cenário de volatilidade na economia que o país costuma viver em anos eleitorais “chegou mais cedo”. Todas as incertezas vêm se refletindo em alta da inflação e o “remédio amargo” para a situação é aumentar a taxa de juros. “Aumento de juros é muito ruim para quem quer empreender, é terrível”, diz.
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