O voto a favor de três dos 21 deputados federais baianos pela privatização dos Correios, na Sessão Deliberativa desta quinta-feira, 6, na Câmara Federal gerou revolta maior entre os carteiros baianos, que poderão ser prejudicados, com o risco de ficarem desempregados.
De acordo com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Correios e Telégrafos da Bahia, Josué Canto, a maioria dos trabalhadores da empresa brasileira de telégrafos vive nas periferias das grandes cidades, inclusive em Salvador, e mais da metade são evangélicos.
“Maioria é favela e evangélico. Posso dizer que 97% dos trabalhadores vivem nas periferias e mais de 50% são evangélicos e, em sua maioria, frequentadores da Igreja Universal do Reino de Deus”, disse .
Tido como o “Príncipe do Gueto”, o deputado e cantor Igor Kannário (DEM), que estourou com o refrão “eu não sou de baixar a cabeça para ninguém”, foi um dos que votou a favor da privatização. “É hipocrisia. Ele [Igor Kannário] vota no que mandam ele votar”, lamentou Canto.
Segundo o representante dos carteiros, a maioria dos cerca de cinco mil trabalhadores baianos recebe salário mínimo. “A única diferença para trabalhadores de outras categorias é o recebimento de um ticket de R$ 900, mas a maioria sobrevive de um salário mínimo”, explicou.
Já sobre a religião dos trabalhadores da empresa pública, o presidente do sindicato, que é evangélico e membro da Igreja Batista, diz que os parlamentares baianos ligados à Universal, Bispo Márcio Marinho e Tia Eron, ambos do Republicamos, votam conforme determina seu líder, o bispo Edir Macêdo.
“O bispo Edir Macêdo faz o que [o presidente Jair] Bolsonaro manda. Na pandemia eles recomendaram o uso da cloroquina [para tratamento precoce da covid-19] e deu no que deu: muitos irmãos morreram”, criticou, ao defender a atuação das igrejas evangélicas em favor de justiça social. “Eles deveriam seguir os ensinamentos de Cristo”.
De acordo com a proposta aprovada na Câmara, que segue para votação no Senado Federal, está prevista a estabilidade por 18 meses dos funcionários da estatal após privatização. Os trabalhadores só poderão ser demitidos durante esse período por justa causa. A empresa que comprar os Correios terá que disponibilizar também um Plano de Demissão Voluntária (PDV), com período de adesão de 180 dias a contar da desestatização.
No projeto da venda da Eletrobrás, aprovada no Congresso no mês passado, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) vetou o dispositivo que garantia o reaproveitamento dos funcionários demitidos da estatal e suas subsidiárias em até um ano da privatização. Em sua justificativa, Bolsonaro ressaltou que o dispositivo “viola o princípio do concurso público e aumenta as despesas”.
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