Ao aceitar compor o governo do presidente Jair Bolsonaro, colocando o deputado Ciro Nogueira na Casa Civil,
o Centrão está pode estar dando um tiro no pé. No pé esquerdo e no pé direito. Afinal apoiar o governo no Congresso eventualmente e ter este ou aquele deputado ocupando o cargo de ministro é uma coisa, assumir o principal cargo e a direção do governo é outra.
No primeiro caso, sendo apenas um nó na corda governamental, será fácil para o partido se desatar e seguir novos caminhos; no segundo caso, tornando-se o nó principal, o partido passa a dividir a responsabilidade e torná-se agente principal, compactuando com a loucura bolsonarista. Ou seja, o Centrão torna-se co-responsável pelo descaso com a vacina, pelos ataques à democrcacia, pela campanha à favor do voto impresso, pelos desmandos na compra de vacinas no Ministério da Saúde, por tudo que coloca o governo Bolsonaro à beira do impeachment.
Esse é o tiro no pé direito e engana-se o partido acreditando que, passado 6 meses ou um pouco mais, ele poderá sair do governo impunimente para apoiar outros candidatos e seguir seu próprio caminho. Isso será impossível, não só porque o partido estará atolado na política bolsonarista e marcado a ferro pelo bolsonarismo, numa eleição tão polarizada que não permitirá defecões de última hora, mas também porque o presidente Bolsonaro tende a reagir atirando quando um partido, um grupo político ou um político consegue desvencilhar-se de suas garras. Isso ficou bem claro com o DEM que aproximou-se de Bolsonaro e foi triturado, tornando-se um partido dividido e informe.
Se o Centrão pensa que pode entrar no governo pensando em sair daqui a seis meses para ficar livre no tabuleiro eleitoral, não conhece a forma como a tropa bolsonarista se move e como destrói aqueles que se tornam seus adversários. É só ver o caso Moro e o caso ACM Neto para percerber que com Bolsonaro o jogo é bruto.