Por Aline Damazio e Gabriela Marotta
No momento em que a Bahia ultrapassou um milhão de contaminados por coronavírus, e o país ultrapassou 450 mil mortes pela doença, Diego Lomanto, 32 anos, passou a integrar as estatísticas dos 1.035.524 baianos que foram positivados com o novo vírus. “Eu perdi meu pai para a Covid e dias depois que ele morreu quem foi contaminado pelo Coronavírus fui eu”, desabafa Diego.
Foram oito longos dias para Diego dentro do Hospital Salvador, onde ficou internado com complicações que apareceram como resultado da infecção pelo vírus. Após a alta hospitalar, o marmorista ainda contou com uma ajuda que considerou essencial para a rapidez de sua recuperação: organizações da comunidade acadêmica que se mobilizaram durante a pandemia para atender grupos vulneráveis, em meio ao agravamento da crise sanitária e econômica da Covid-19.
Um exemplo dessas organizações é o Ambulatório de Fisioterapia Cardio-Respiratória do Centro Universitário Jorge Amado – Unijorge – que, de forma ininterrupta, seja através do tele atendimento ou na forma presencial, uniu professores e estudantes para promover o tratamento de reabilitação para pessoas que contraíram a Covid.
Dados compilados pelo ambulatório durante os 15 meses de pandemia apontam que de 1º de janeiro até 20 de maio foram realizados 3.254 atendimentos de fisioterapia. Destes, 244 foram de um novo público: pacientes pós-Covid.
“Eu estava com muito medo das sequelas do coronavírus. Nos primeiros dias eu convivi com cansaço, falta de ar e não conseguia fazer nenhuma atividade, que minha saturação de oxigênio caía. Aí eu tinha que parar e sentar, ou deitar”, contou Diego que, nessa situação, desconfiou que houvesse algo errado e procurou pelo tratamento de reabilitação oferecido pela Unijorge três dias após a alta hospitalar.
A tomada de atitude rápida na procura pelo tratamento após ser considerado curado foi responsável pela diminuição das sequelas que o coronavírus provocou no seu organismo. “Foi essencial para minha recuperação. Eu faço fisioterapia duas vezes na semana, quarta e sexta. São tratamentos respiratórios, musculatórios e cardiológicos”, relatou.
Pacientes com sequelas do Covid são alvo de estudo
Ainda não há dados sobre as consequências da síndrome pós-Covid no Brasil. Mas, um estudo conduzido pelos Serviços Nacionais de Saúde (National Health Services) da Inglaterra mostrou que, mesmo quando não há mais carga viral circulante, os pacientes recuperados da Covid-19 podem desenvolver doenças coronarianas, neurológicas e endocrinológicas.
Dentre os principais problemas que podem ocorrer durante a síndrome inflamatória pós-Covid, estão as limitações respiratórias causadas por fibrose pulmonar, lesões cardíacas, fadiga, fraqueza muscular, problemas de memória, insuficiência renal, além de alterações cognitivas e psíquicas.
Ainda de acordo com estudos, entre os pacientes que foram hospitalizados devido ao Sars-CoV-2, 45% necessitarão de cuidados em casa; 4% precisarão de algum tipo de reabilitação, a exemplo da fisioterapia pulmonar; e 1% deverá receber tratamento médico para o resto da vida.
Comparando os resultados da pesquisa com o cenário de aumento de procura de pacientes pós-Covid ao Centro de Reabilitação e Fisioterapia do Unijorge, é demonstrada, na prática, a função social desses espaços.
A coordenadora do curso de fisioterapia do Unijorge Maira Bouzas, destaca a interação e aprendizagem entre professores e formandos na ação social durante a crise sanitária que o mundo enfrenta.
“Nós começamos em junho no auge da pandemia e iniciamos atendimento via conferência por telefone. No tele atendimento, já tínhamos um retorno muito bom, relacionado a atender e ajudar no tratamento dos pacientes. E, em alguns meses, após adotarmos todos os protocolos de segurança, passamos a fazer a atendimento de forma presencial no final do ano de 2020”, diz Bouzas, lembrando ainda que apesar de o espaço ser destinado ao tratamento de pacientes pós-Covid, portadores de doenças crônicas também podem usá-lo de forma gratuita.
Ainda de acordo com a coordenadora, houve aumento na procura de pessoas relatando problemas de saúde após serem positivadas com Covid, assim como o engajamento de alunos voluntários, acompanhados de professores, que se disponibilizam em prestar serviço no ambulatório e colocar em prática as teorias que aprenderam durante o curso.
“Foi muito bom saber que alunos foram preparados ao longo da formação acadêmica. Nós, enquanto professores, pudemos perceber, durante os atendimentos, que eles estão preparados para suprir as demandas desses pacientes. Claro que sempre com a supervisão de docente. Mas nós entendemos que esse é o momento de preparar esses alunos para o mercado”, disse.
Os atendimentos à comunidade contam com seis alunos por turno mais um professor durante quatro dias. No espaço são disponibilizados equipamentos aéreos, esteiras, bicicletas ergométricas, pesos e caneleiras que são utilizados na reabilitação de pacientes.
“Alunos e professores ajudam os pacientes a fazerem tanto exercícios voltados para função pulmonar, quanto exercícios para o condicionamento físico, para auxiliá-los nas atividades diárias da vida”, apontou a coordenadora.
“Eu tive 50% de comprometimento do pulmão. Quando iniciei o tratamento gratuito, meu batimento cardíaco subia para 180 só com exercício de agachamento. Eu só conseguia pedalar três minutos e precisava parar. Após 15 dias de acompanhamento no centro de reabilitação, consegui fazer os exercícios e os batimentos ficaram em 120, o que é normal. Hoje já fico o dia todo em pé. Antes não conseguia ficar nem uma hora. Também pratico 15 minutos na bicicleta e mais 15 minutos na esteira, devagarzinho. Além da aula prática, ainda tenho uma cartinha para fazer em casa os exercícios”, conta Diego, que chama atenção para a procura rápida do atendimento de reabilitação. “Quanto mais rápido procurarmos a recuperação, melhor. Eu preciso retomar ao trabalho, para minha minha vida normal, e contar com apoio dos universitários e professores para isso está me ajudando a vencer mais essa batalha que o vírus impôs”, descreveu.
Serviço:
Centros de reabilitação pós – covid:
Ambulatório de fisioterapia cardio-respiratória
Telefone: 3206-8000
Foto: Andréa Rêgo Barros/PCR