Nesta terça-feira, dia 25 de maio, é celebrado o Dia Nacional da Indústria. A data acontece em meio à pandemia da Covid-19 e em um cenário de incertezas para os setores produtivos de todo o país. As medidas de restrições adotadas pelo poder público a fim de conter o avanço da doença impôs restrições às atividades do comércio e de serviços, o que gerou, no âmbito da indústria, uma redução na oferta e encarecimento de insumos produtivos.
A Bahia é o maior pólo industrial da Região Nordeste e a 7ª indústria do Brasil. O setor industrial representa 21,5% do PIB do Estado. De acordo com dados da Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia (Sefaz), em 2020, a indústria contribuiu com cerca de 57% da arrecadação de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) do estado. A economia baiana, contudo, não passou ilesa aos efeitos da pandemia e o PIB do estado apresentou queda de 8,7%, no segundo trimestre de 2021, em relação ao mesmo período de 2020, a maior queda da série histórica, segundo dados divulgados pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI).
“O nosso setor [cosméticos] sentiu muito os impactos da pandemia, principalmente logo em seu início, e depois com as medidas de restrição. A indústria depende do comércio e as lojas de perfumaria, bem como os salões de estética e beleza, permaneceram muito tempo fechados.”, afirma o vice-presidente do Sindicato das Indústrias de Higiene, Perfumaria e Cosméticos da Bahia, Gecê Macêdo de Oliveira.
Empresário do setor químico, Roberto Fiamenghi afirma que “a indústria química sofreu uma queda da demanda nos primeiros seis meses da pandemia, ocasionando muitas paradas de unidades industriais, gerando desemprego e redução dos estoques”. De acordo com Flamenghi, a indústria brasileira mostra-se pouco competitiva, o que fortalece uma política de importação em detrimento da exportação.
“As importações de produtos industrializados estão crescendo porque a indústria brasileira não é competitiva. Os impostos sobre os produtos fabricados no Brasil chegam a 45%, enquanto os importados estão em torno de 25%. A energia elétrica no Brasil é uma das mais caras do mundo. O gás natural também. A indústria está definhando no país, enquanto estamos importando produtos acabados. No Brasil não existe mais ministério da Indústria e Comércio. E, consequentemente, não existe uma política industrial para o desenvolvimento da indústria.”, disse.
Segundo o vice-presidente do Conselho Regional de Economia da Bahia, o economista Gustavo Pessoti, a pandemia não pode ser responsabilizada pelo fraco desempenho da indústria no estado, tampouco no país. Para Pessoti, o problema, no Brasil, diz respeito a uma cultura de baixa competitividade e de pouco investimento na indústria. “O problema da nossa indústria é circular. A gente padece de uma indústria nacional, da falta de competitividade. Nós nunca encontramos uma organização política e econômica que criasse um ambiente favorável ao pleno desenvolvimento da indústria. Então, eu diria que a primeira grande constatação é essa. A falta histórica de uma maior atenção governamental, de políticas e de planejamento, voltado pro fortalecimento das cadeias industriais em nosso país”, explicou Pessoti.
“A gente está falando de uma economia que demorou de entrar no ciclo de desenvolvimento industrial e quando entrou, nunca entrou de maneira alicerçada, com planejamento, com desenvolvimento de políticas que verdadeiramente trouxessem e consolidassem o parque industrial nacional”, pontuou Pessoti. Para o presidente da Associação de Empresas do Centro Industrial de Aratu (Procia), Hilton Barbosa, o momento de crise sanitária mostrou a importância de um setor industrial forte. “Ficou clara a importância que a indústria tem para a sociedade. Foi um dos setores que não parou um dia sequer durante o último ano, sob a responsabilidade de abastecer as moradias, hospitais e supermercados. E especialmente no Centro Industrial de Aratu, as empresas aderiram ao associativismo para enfrentar juntas o desafio de superar o momento pandêmico”, disse.
Estabilidade
Apesar da pandemia, houve setores da indústria da Bahia que se mantiveram firmes, com índices positivos. É o caso da indústria de mineração. O presidente do Sindicato das Indústrias Extrativas de Minerais (Sindimiba), Paulo Misk, afirma que no período houve crescimento da cadeia produtiva de mineração. “A produção mineral baiana cresceu mesmo em meio a pandemia. Nos primeiros meses de pandemia passamos por uma grande readequação das operações. Reduzimos o número de colaboradores nas minas, deslocamos boa parte da equipe para o home office, adotamos diversas medidas para aumentar a higienização das áreas e dos veículos nas operações e preservamos o distanciamento social dentro das empresas. Tudo para nos manter funcionando com segurança para todos os envolvidos”, relatou Misk.
Diretor executivo da Associação de Usuários dos Portos da Bahia (Usuport), Paulo Villa afirma que o segmento logístico, essencial à indústria, foi pouco afetado pela pandemia. “No campo que a Usuport atua, os problemas estão concentrados na necessidade de uma maior oferta de serviços marítimos, sobretudo, no aumento de competição no transporte e operadores, no aumento de capacidade de tráfego das BRs-324, 242, 116 e 101, e no aumento de capacidade ferroviária entre a Grande Salvador e Grande Belo Horizonte.”, explicou Villa. “A logística de transporte de cargas é muito importante para a Bahia ter uma indústria forte e competitiva. A Usuport atua no sentido de promover a competitividade de insumos e produtos industriais.”, endossou.
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