O ex-governador Ciro Gomes é, neste momento, o único político brasileiro com possibilidades de assumir o posto de terceira via no embate que se avizinha entre Lula e Bolsonaro, mas, ao que tudo indica, sua estratégia de posicionamento é um suicídio anunciado.
A estratégia adequada para Ciro Gomes, sob o ponto de vista da população, deve ser aquela que já vem sendo tocada corretamente pela intuição do marqueteiro João Santana. As peças publicitárias já estão apresentando ao país um Ciro mais amadurecido, menos impulsivo ou temperamental e disposto a dialogar. Em poucas palavras: um Ciro paz e amor.
É exatamente isso que a maioria dos eleitores deseja, um candidato que fuja da briga de Titãs entre Bolsonaro e Lula, que se mostre como alternativa tanto para aqueles que permanecem antipetistas, como para os que estão arrependidos de ter votada no governo atual. Ciro precisa encarnar o que a maior parte da população quer, ou seja, a pax política para que seja possível ao país retomar o seu caminho e assim possa trabalhar em paz, sem a extrema polarização entre esquerda e direita que está polarizando o país, com reflexos nas famílias, nas empresas e nos negócios.
Ciro, no entanto, parece novamente disposto a seguir o caminho do confronto, batendo tanto em Lula quanto em Bolsonaro. Ora, isso pode desidratar sua posição como terceira via, já que vai entrar no ringue da luta dos Titãs e aí vai ser nocauteado facilmente. O caminho óbvio para Ciro é deixar que Bolsonaro e Lula se ataquem mutuamente, enquanto ele, acima do conflito, apresenta um projeto para o Brasil. Só para lembrar: Biden não atacava Trump diretamente e nos debates até ria da agressividade dele. Que cara é este?, dizia respondendo às mentiras de Trump.
Além da estratégia política é preciso uma estratégia econômica. A proposta econômica de Ciro é boa, mas tem Estado demais. Não há dúvida de que o papel regulador, indutor e desenvolvimentista do Estado é, ao contrário do que pregam os liberais ortodoxos, importantíssimo no cenário econômico mundial e a pandemia mostrou isso e a proposta de Ciro passa por aí. Mas ele precisa suavizar essa proposta, aderindo a algumas teses liberais fundamentais, como a privatização de algumas estatais, a reforma administrativa e tributária e o compromisso com a austeridade fiscal. E Ciro já deu um passo nessa direção ao colocar em sua equipe o economista Paulo Rabello de Castro, um craque da economia que sabe dosar um pouco de liberalismo com um pouco de Estado.
Essa estratégia é fundamental para atrair o centro do espectro político, o empresariado brasileiro, a classe média e grande parte do eleitorado. Mas, se ao invés disso, Ciro, que é neste momento o quadro mais preparado para assumir o papel da terceira via no processo eleitoral, continuar trocando tapas com Lula e Bolsonaro vai chamar para si apenas o ódio de todos e dificultar a construção das pontes necessárias para chegar ao Palácio do Planalto. (A.A – 23/05/2021)