A participação na CPI da Covid do diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, nesta terça-feira, terá como principal foco as possíveis omissões do governo federal na aquisição de vacinas durante a pandemia. Outro episódio que deve ser explorado é a suposta minuta de decreto presidencial com o objetivo de alterar a bula da cloroquina para que o medicamento fosse indicado no tratamento da Covid-19, conforme revelado em depoimento pelo ex-ministro Luiz Henrique Mandetta.
Um dos objetivos de senadores oposicionistas e independentes é verificar a razão da demora para a análise definitiva do imunizante russo Sputnik V, defendido por alguns governadores para elevar as taxas de vacinação no país. Senadores querem saber se houve interferência ideológica do Planalto sobre a agência e se o atraso na liberação das vacinas ocorreu por razões políticas.
— Sobre essa vacina russa, na nossa opinião, o técnico que deu a versão de que ela tinha risco porque tinha adenovírus replicante fez isso em 20 segundos. Não testou a vacina. Liberou a (vacina) de Oxford, a AstraZeneca só pelo conteúdo das informações que foram encaminhadas, e essa (Sputnik V) passou muito tempo para ser analisada desde que deu entrada. E até hoje não foi liberada — disse o senador Otto Alencar (PSD-BA).
Na véspera da audiência, o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que a Anvisa informe em até 48 horas quais documentos faltam para que seja feita uma análise definitiva do pedido de importação da Sputnik V. O despacho foi dado em um pedido feito pelo estado do Maranhão. Seis senadores apresentaram requerimentos ao colegiado pedindo a convocação de Barra Torres. Entre eles, o relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), que justifica ser “imprescindível” ouvir o presidente da Anvisa para “elucidar quais providências foram tomadas pelo órgão no enfrentamento da pandemia”.
Em sua solicitação pela presença de Barra Torres, o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), afirma que o Brasil chegou a uma “situação catastrófica” por conta dos “inúmeros e sucessivos erros e omissões do governo no enfrentamento da pandemia da Covid-19 no Brasil”, citando o “atraso na omissão para a compra de vacinas” como um deles.
A tentativa orquestrada pelo Palácio do Planalto de mudar a bula da cloroquina, revelada por Mandetta, o que abriria caminho para a expansão do uso do medicamento — comprovadamente ineficaz para combater o coronavírus —, é outro ponto que será explorado. Além disso, senadores da oposição querem que Barra Torres explique por que ele participou, em março do ano passado, de uma manifestação ao lado do presidente Jair Bolsonaro, em que houve aglomeração.
Inicialmente, Barra Torres era visto como um validador das atitudes de Bolsonaro, mas depois passou a se distanciar de controvérsias políticas e a defender medidas como o isolamento social. Ainda assim, parlamentares consideram que o presidente da Anvisa será pressionado a falar sobre o tema e sua relação com Bolsonaro. Alguns deles lembram que o Senado é a Casa que aprova o nome de todos os diretores da agência. Apesar dos possíveis esclarecimentos que podem ser feitos por Barra Torres, a principal expectativa da semana é para os depoimentos do ex-secretário de Comunicação da Presidência Fabio Wajngarten e de representantes da farmacêutica Pfizer, marcados para quarta e quinta-feira.
Foto: PABLO JACOB / Agência O Globo