A CPI da Covid não vai resultar em impeachment ou coisa que o valha. E o motivo tem nome e sobrenome: Hamilton Mourão. E a razão é simples: nenhuma força política atuando no Congresso Nacional tem interesse em tirar Bolsonaro do poder para colocar o vice-presidente Hamilton Mourão e é isso que acontece em todo e qualquer processo de impeachment. Especialmente porque assumindo o poder o vice-presidente poderia ser candidato à reeleição e iria para o pleito sem o desgaste que Bolsonaro teve ao longo do mandato.
Nem Lula, nem Ciro, nem o Centrão, ninguém quer o impeachment do presidente da República. Isso não quer dizer que a CPI da Covid seja desimportante ou que não vai dar em nada, pelo contrário, seu objetivo explícito é caracterizar nacionalmente a incompetência de Bolsonaro na gestão da pandemia, tornando-o responsável pelas mais de 400 mil mortes. O que os senadores querem e os partidos contrário ao presidente desejam é sangrar o capital político de Bolsonaro. Por outro lado, os governistas vão continuar tentando minimizar os depoimentos e tentar a todo custo incluir fatos que possam comprometer alguns governadores para assim dividir o ônus do descalabro que foi a gestão da pandemia.
Com esse cenário é possível que a CPI da Covid reduza ainda mais a popularidade de Bolsonaro, especialmente entre aqueles que não são “bolsonaristas raiz” já que entre estes nada será possível fazer. Em suma: a CPI da Covid pode ferir de raspão o Presidente da República, mas será incapaz de feri-lo de morte, a nào ser que um depoimento desastrado, como o do general Pazuello, ou proposital venha adicionar fatos que demonstrem de forma cabal que as ações do governo foram responsável por um número maior de vítimas.
A CPI da Covid se torna assim o primeiro ato da tragédia (ou será uma comédia?) cujo desfecho ocorrerá em 2022. O ato pode dar contornos ao drama e definir que rumos cada ator irá tomar, mas será incapaz de influir sobre o final da peça. (EP – 10/03/2021)