“Um capitão deve se esforçar ao máximo para dividir as forças do inimigo, seja fazendo-o desconfiar dos homens que confiava antes ou dando-lhe motivos para separar suas forças, enfraquecendo-as”. A frase é de Maquiavel e o nosso capitão a adotou ao pé da letra. “Dividir para governar” é o lema de Bolsonaro e, baseado nele, o Presidente repartiu o país, criando divisões na política, na sociedade e até dentro do próprio governo.
Na sociedade, ao invés de tentar unir a nação em torno de um objetivo comum, Bolsonaro preferiu estimular o confronto, ressaltando as diferenças, atacando ideias apoiadas no mundo inteiro pelo senso comum, e adotando uma política que é por si só diversionista. Com isso, divide os partidos, as associações, as famílias, os amigos e a nação.
A importância da ciência é um consenso, reconhecido em todo mundo – e a criação de dezenas de vacinas em menos de um ano demonstrou essa importância –, mas Bolsonaro injeta o vírus do tratamento precoce nesse consenso e assim, montado na força da instituição “presidência da República”, divide o país. E divide também a classe médica e suas associações. Bolsonaro faz o mesmo em todos os segmentos e assim estabelece e estimula divisões.
A maioria absoluta dos brasileiros é democrata, mas o presidente injeta o vírus da intervenção militar para assim dividi-los; a maioria dos brasileiros é cristã, mas o Presidente estimula a divisão entre evangélicos e católicos, dividindo sua fé; a maioria dos brasileiros crê na Justiça, mas o capitão injeta o vírus da desconfiança no STF e em outras instituições para minar sua importância. Está tão arraigada essa política na natureza de Bolsonaro, que ele tentou implementá-la nas forças armadas e a recente mudança no primeiro escalão do exército, marinha e aeronáutica, injetou o vírus do dissenso na mais sólida das instituições brasileiras.
A política “dividir para governar” é usada também dentro do governo. Assim, sempre que um ministro se destaca de forma positiva, ele passa a ser “fritado” pelo presidente, que não permite que alguém se destaque mais que ele. E o mais grave é que o capitão estimula conflitos na sua própria equipe de modo a impedir a ascensão de qualquer ministro. O caso mais notável é o do Ministro da Economia, Paulo Guedes, que hoje tem no Ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, um inimigo declarado, que propõe a todo momento furar o teto das contas públicas, e que continua sendo prestigiado e estimulado pelo presidente.
Na política, Bolsonaro usa à exaustão a política do “dividir para governar”. E o melhor exemplo foi a Bahia, onde ele conseguiu colocar uma cunha no sólido grupo político que apoia ACM Neto, nomeando João Roma como Ministro da Cidadania contra a vontade do ex-prefeito. O capitão estimulou o deputado Roma a trair o amigo de 20 anos, sem o qual sequer estaria na política, e assim “dividiu para governar”, na tentativa de enfraquecer o ex-prefeito e assim atraí-lo para o seu lado. ACM Neto reagiu, rompeu com Roma e seguiu criticando o governo. O dissenso promovido por Bolsonaro não constrói nada, apenas desvirtua a política e acaba com todo tipo de lealdade e companheirismo que deve haver entre aliados.
Mas essa política que Bolsonaro crê infalível é uma má leitura de Maquiavel, que nunca pregou a divisão da nação ou a divisão entre aliados, sugerindo, ao contrário, que o príncipe ampliasse seus apoios e fosse querido pela população. Bolsonaro não entendeu nada e hoje coloca sua cunha divisionista em toda à parte, inclusive onde poderia ter apoio. E já há sinais de que o Presidente pretende usar a mesma tática com o Centrão e com a CPI da Covid que pode ser o start da sua decadência.
A política de estimular a polarização está se esgotando rapidamente e o presidente começa a perder apoio na sociedade, nas forças armadas e entre políticos que poderiam apoiar sua reeleição. Se permanecer assim em breve, e com a ajuda da CPI da Covid, Bolsonaro se tornará um zumbi solitário, andando pelo corredores do Palácio da Alvorada a pregar o golpe militar. (EP-19/4/2021)