Os destinos turísticos mais procurados da Bahia não vão ter barreiras para impedir a entrada de visitantes no feriado da Semana Santa. Mesmo com a suspensão do transporte intermunicipal por parte do Governo do Estado, para controlar o avanço epidemiológico da covid-19, municípios como Mata de São João, Cairu, Itacaré, Lençóis, Mucugê, Palmeiras, Rio de Contas, Barra do Mendes e Porto Seguro estão com as portas abertas para a entrada de turistas.
No caso de Rio de Contas e Lençóis, cidades da Chapada Diamantina, barreiras sanitárias até serão montadas, mas estas não impedirão a entrada de pessoas que fizeram reserva em hotéis ou pousadas. Em Rio de Contas os atrativos turísticos permanecerão fechados, segundo Cleria Vanusa, coordenadora da assessoria de comunicação da cidade.
“A barreira aqui funciona desde março de 2020, nunca parou. Os hotéis funcionam com até 50% da capacidade. Tem gente que vem nem que seja só para ficar na pousada, descansando. Ainda assim, não tem como fechar todo o rio, mas os principais pontos turísticos estão fechados, como a Cachoeira do Fraga e o Pico das Almas, por exemplo”, disse.
Palmeiras e Barra do Mendes são outros municípios da Chapa Diamantina que está com os principais pontos turísticos fechados, mas bares restaurantes, hotéis e pousadas podem funcionar durante o dia, quando não está em vigor o toque de recolher. “Não adianta a gente ter turismo e não ter vidas. É o momento de dar uma parada, ficar mais em casa para ter uma vida mais legal lá na frente”, defendeu o secretário de Saúde de Palmeiras, Walney da Silva.
Em Mucugê, outra cidade da Chapada Diamantina, já está decidido que os pontos turísticos permanecerão abertos. Lá sequer vai haver barreira sanitária para controle da chegada de turistas. “Quem tem autonomia de chegar de veículo próprio tem essa disponibilidade de ocupar até 50% de leitos de hospedagem. A ótica do município é essa: permitir a ocupação cumprindo os protocolos de segurança”, explicou o secretário de Turismo, João Lucio.
Já Lençóis ainda não confirmou se as atrações turísticas continuarão abertas ou serão fechadas na Semana Santa. O Parque Nacional da Chapada Diamantina, cujo território está dividido em sete cidades da região, está aberto. O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que administra o local, também ainda não informou se haverá alguma mudança na Semana Santa. “Os atrativos naturais de Lençóis estão abertos, mas como são geridos por diferentes entidades, isso pode mudar a depender dos decretos do governo estadual. Os meios de hospedagem estão limitados a 50% da taxa de ocupação e continuaremos com restrição de circulação noturna”, disse a prefeitura, em nota.
Praia
Nos principais pontos turísticos do litoral baiana, diversas prefeituras também não estão adotando uma política de pedir para que o turista não a visite durante a Semana Santa. Em Porto Seguro, por exemplo, cidade que administra os distritos de Trancoso, Caraíva e Arraial d’Ajuda, o turismo continuará ativo com um decreto municipal que permite o funcionamento do comércio entre 8h e 22h horas. A cidade de 150 mil habitantes tem 40 leitos de UTI e 34 ocupados. São 141 casos ativos de covid-19.
Mesmo com os números preocupantes da doença, o prefeito Janio Natal (PL) justifica suas medidas pelo impacto econômico, principalmente no turismo da cidade. “95% da economia municipal é de serviços. O impacto é assustador para todos, principalmente para os comerciantes, bem como a prefeitura que está tendo uma queda brutal na sua arrecadação”, disse, por meio de nota. Em Mata de São João, cidade que abriga os distritos de Praia do Forte e Imbassaí, o prefeito João Gualberto (PSDB) acredita que as barreiras sanitárias não serão necessárias, pois o município espera menos visitantes com a suspensão do transporte.
“Nossos locais turísticos são uma segunda residência para muitas pessoas. Aumentou inclusive a quantidade de gente morando aqui por causa da pandemia. Essas pessoas e seus parentes vão querer ir para lá. Agora isso não significa que está permitido aglomeração. Ônibus de turismo estão proibidos, finais de semana não pode ter venda de bebida alcoólica, não tem atrativos abertos… tudo isso impede a circulação”, argumenta.
Júlio Oliveira, secretário de turismo de Cairu, cidade que abriga a Ilha de Boipeba e a vila de Morro de São Paulo, segue essa mesma linha de pensamento: “É um feriado que praticamente não vai existir”. Ele diz isso, pois a expectativa do setor hoteleiro é permanecer com a mesma ocupação atual, de 20% a 30%. “A gente esperava ir para 50% na Semana Santa, mas essa não é mais a realidade. As reservas em março caíram e as de abril despencaram”, disse.
Por causa do decreto estadual, as principais vias marítimas de acesso aos locais turísticos estarão fechadas. Segundo o secretário, o terminal marítimo de Valença deve funcionar em regime especial para atendimento aos moradores da ilha “É necessário para que a comunidade de Morre de São Paulo não fique desabastecida. Existem alguns serviços básicos que só são realizados em Valença, que é mais perto de lá do que do centro de Cairu. Esse transporte é uma necessidade da comunidade”, explica.
Sem turistas
Das cidades procuradas pelo Correio, apenas Itaparica disse que vai impedir a entrada de visitantes no período. Segundo informações da assessoria de comunicação, sempre que o transporte de lanchas e ferry boat são suspensos, uma barreira sanitária é montada na Ponte do Funil para não permitir a entrada de quem está indo apenas para passear e não tem residência na cidade. O cantor Jota Velloso, secretário de Cultura e Turismo de Itaparica, disse que é momento de ficarmos todos em casa.
“O prefeito vai seguir a determinação do Governo do Estado. Nesse momento, pensar em turismo e passeio é uma falta de noção do que está acontecendo no nosso país. Temos que ficar em casa e torcer pra que sejamos todos vacinados. Não se pode nem pensar em encontros pequenos com família, pois uma quantidade pequena de pessoas é o suficiente para criar um desastre e um remorso pro resto da vida”, disse.
Também no litoral baiano, Itacaré, no sul da Bahia, vai manter uma barreira sanitária, que inclusive deve impedir a chegada de transportes intermunicipais irregulares, segundo o secretário de turismo Jorge Ávila. No entanto, só nessa sexta-feira (25) será possível ter um comunicado oficial sobre como se dará o turismo na cidade durante a Semana Santa, após uma reunião que será feita com toda a equipe de gestão da prefeitura.
Epidemiologista
Para a epidemiologista Gloria Teixeira, integrante da Rede CoVida Ciência Informação e Solidariedade, a decisão de suspender o transporte intermunicipal na Semana Santa é acertada. No início da pandemia, esse tipo de transporte foi suspenso para impedir o vírus de se espalhar para as cidades baianas. Hoje, todos os 417 municípios possuem casos confirmados. Mesmo assim, ela explica que evitar a circulação de pessoas ainda é importante.
“Se você viaja, você não vai levar mais o vírus para aquela cidade, mas você pode levar para uma família ou alguma pessoa que não está infectada. A mobilidade aumenta a possibilidade de transmissão. O vírus anda com o ser humano, transmite de pessoa para pessoa. Então, se há grande mobilidade, a probabilidade de um infectado transmitir pra outro aumenta”, explica.
É com esse mesmo princípio que a cientista também acredita que adiantar os feriados associado a um lockdown pode ser uma medida importante, que vai beneficiar tanto aos números epidemiológicos como o combate ao vírus. “Não adianta criar um superferiado sem medidas de contingenciamento, ou seja, permitindo que as pessoas circulem nas cidades. Durante o feriado, tem que ter o lockdown”, aponta.
O que fazer se eu tiver comprado uma passagem para o período da Semana Santa?
Segundo a Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Energia, Transportes e Comunicações da Bahia (Agerba), é possível remarcar a viagem para um prazo de até um ano ou pedir o reembolso com o desconto de 20% do valor da passagem.
Foto: divulgação