Os parlamentares baianos atribuem ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) a culpa pela perda de cerca de R$ 100 bilhões em valor de mercado da Petrobras, após ele demitir o executivo e presidente da empresa de economia mista, Roberto Castello Branco, anunciando para o seu lugar o general Joaquim Silva e Luna, diretor-geral da Itaipu Binacional.
Nesta terça-feira, 23, Bolsonaro voltou a negar que sua decisão foi para intervir na política de preços da estatal. “O que que eu interferi na Petrobras? Alguém responde aí? O que eu falei para baixar o preço? Nada, zero”, disse para a apoiadores na saída do Palácio da Alvorada. “Tem muita coisa errada, o novo presidente vai dar uma arrumada lá (Petrobras), pode deixar”, disse.
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu um processo para apurar a troca de comando na Petrobras, pois o anúncio do presidente foi feito à revelia do conselho da empresa de economia mista. O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), engrossou o coro do presidente, ao afirmar que reação do mercado se tratava de uma “bolha histérica” e reforçou que não haverá qualquer tipo de ingerência na empresa de brasileira de petróleo e gás.
“Isso criou um clima que, para mim, é uma bolha histérica. (…) Será que o presidente da Petrobras era o único que poderia ter a forma do cálculo ideal de como é feita a conta do combustível, do óleo, da gasolina? Não, e não há nenhuma previsão de ingerência”. O senador Jaques Wagner (PT) criticou a atual política de preço da Petrobras, que utiliza o mercado externo como referência, remanejando valores a partir da variação do preço do petróleo no mercado internacional. “Considero um erro fazer a empresa simplesmente acompanhar os preços do mercado, os atrelado ao dólar. Isso não interessa ao Brasil”.
Wagner lembrou que, quando o PT estava no governo, havia uma preocupação de “conciliar os objetivos da empresa com os interesses dos acionistas majoritários”, como define o povo brasileiro. “O Presidente da República foi eleito pelos acionistas majoritários da Petrobras, que são o povo brasileiro. É sua atribuição indicar os membros do Conselho e da diretoria. Minha opinião é que ele deve trabalhar para atender os interesses destes acionistas, e não os do mercado”, destacou Wagner.
Questionado sobre o nome de Silva e Luna para o comando da pasta, o senador teceu elogios. “O que posso dizer é que trabalhou comigo, é um profissional aplicado. Não sei qual a orientação dele para dirigir a Petrobras, mas creio que será melhor que o atual, cujo único objetivo é atender ao mercado”. O coordenador da bancada de deputados federais e senadores da Bahia, o deputado federal Marcelo Nilo (PSB), fez duras críticas ao presidente, atribuindo um caráter meramente eleitoreiro à sua decisão.
“Ele não se preocupa com o povo, com a economia; sua preocupação é apenas com sua reeleição. Quando ele se deu conta que perdeu o controle dos preços, deixando o mercado regulando completamente e, infelizmente, sempre aumentando o preço do gás, energia, óleo, gasolina, ele resolveu intervir de forma desastrosa, causando um prejuízo de mais de R$ 100 bilhões, que será coberto com novos aumentos”, sinalizou.
Nilo afirma que a ação também busca agradar a classe dos caminhoneiros e evitar uma greve, que segundo o deputado, contribuiu para elegê-lo em 2018. O político destaca ainda que ato também serve para retirar o foco da atuação do governo no combate à pandemia do novo coronavírus.“Isso é para desviar a atenção da incompetência em relação ao combate da pandemia da Covid-19”.
O deputado do PSB critica a “falta de planejamento” e “despreparo do Ministério da Saúde”. Ele cita que o “Reino Unido vacinou 30 milhões e o Brasil ainda está na casa dos 4 milhões”. Ele também fez críticas ao presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL). “Lira está conversando bobagem, a prática mostrou que Bolsonaro interviu na Petrobras e foi um desastre. Lira entende de economia como eu entendo de viagem espacial – nada. Agora quem fica pior é o Paulo Guedes, que tem apego a cargo e poder, e agora perdeu completamente a credibilidade perante mercado, o posto Ipiranga está desmoronando. Eu pensei que ele iria renunciar, agora que descobriu que não manda mais em nada”, ironizou Nilo.
Para o vice-líder do PT na Câmara dos Deputados, Afonso Florence, o ato demonstra “incompetência, má gestão e até prevaricação”, caso “se comprove que Bolsonaro agiu de caso pensado para derrubar ações da empresa pública”. Afonso sinaliza que grandes corretoras indicaram venda de papéis da empresa pública e elas próprias começaram a comprar, com um valor mais baixo, essas ações. “A XP indicou venda e está comprando, isso é um jogo de mercado suspeito”.
O petista aponta o fim da administração pública de preços, que vigorava nos governos petistas, como uma das medidas para o enfraquecimento de uma gestão em mão dupla, que beneficiava tanto o mercado como os cidadão. “Esses eram preços administrados, combustíveis, energia elétrica, eram preços geridos por empresas pública, olhando para o interesse nacional e do mercado, de uma forma profissional”.
O vice-líder do PT na Câmara acredita que o ato é uma represália de Jair Bolsonaro contra Roberto Castello Branco por ele ter vetado o pagamento de R$ 100 milhões em publicidade para duas grandes emissoras de canal aberto, como foi revelado no último domingo pelo jornalista Merval Pereira, do grupo Globo. O deputado federal Bacelar (Podemos), classificou o governo Bolsonaro como um “circo de horrores” e a decisão de mudar o comando da Petrobras como uma “intervenção indo de encontro à tudo aquilo que pregou em sua campanha”.
“Um presidente que sempre admitiu publicamente não entender de saúde, economia, petróleo, energia, administração, dizia na sua campanha que não vai interferir na administração das estatais e faz uma intervenção nunca usada antes, em nenhum governo desde que me entendo. Isso resultou em um prejuízo, entre R$ 70 a R$ 100 bilhões, com esse valor daria para custear o Auxílio Emergencial sem bulir em nada”, avaliou o parlamentar do Podemos.
Bacelar afirma que ato poderá ser usado até para “abertura de um processo de impeachment”. O político baiano defendeu a atual política de preços da empresa brasileira de petróleo e gás, que classificou como acertada e fundamental para o seu crescimento”. O parlamentar se diz contra uma intervenção na política de preços da Petrobras e sugere que um eventual recurso para cobrir uma desoneração de combustível venha da tributação de lucros e dividendos ou de uma reforma tributária que acabe com o sistema perverso de tributação sobre produtos e sobre a produção.
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