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INDÍGENAS RECUSAM VACINA EM SANTA CRUZ CABRÁLIA 

Redação - 10/02/2021 07:03

Santa Cruz Cabrália, no extremo-sul da Bahia, aplicou somente 1.722 doses das 4.230 recebidas, ou seja, 40,7% delas. O desafio está em convencer os indígenas a se vacinarem. Segundo a secretária de saúde de Santa Cruz Cabrália, Renata Pinheiro, só 34% dos 3.837 indígenas da região receberam a primeira dose. “Nosso município tem enfrentado uma baixa adesão, bem abaixo do esperado. Está tendo muita recusa, muita fake news, tem a questão política também que está incendiando na questão da vacinação, porque muitos são contra o governo federal, muitos acham que a Anvisa não aprovou e que não houve testes suficientes para garantir a eficácia da vacina e tem a questão religiosa também, em que alguns acham que a vacina veio para alterar o DNA”, explica Renata.

A secretária conta que a gestão municipal tem se reunido com caciques, pedindo apoio e criando estratégias de divulgação em rádios da cidade para contrapor à desinformação. Como não há condições de armazenamento na aldeia, são enviadas 200 doses diariamente para os índios. A maioria, no entanto, volta para o estoque na sede do município no fim do dia.

A vacinação em outros grupos, tem avançado. Das 400 doses recebidas para os profissionais de saúde, 88% deles já foram imunizados. A imunização dos idosos acima de 80 anos começou na última segunda-feira (8) e está sendo feita a domicílio, por bairro. São pouco mais de 186 pessoas nessa faixa etária e a prefeitura recebeu 200 doses. O combinado com o governo do estado foi, então, separar as estatísticas dos indígenas das de trabalhadores de saúde e idosos, para que outros grupos pudessem receber as vacinas, já que o município não atingiria os 75% se todos os grupos fossem somados.

A indígena Alice Pataxó, que hoje mora em Porto Seguro, já tomou a vacina, pelo posto de saúde de Coroa Vermelha. No entanto, muitos por lá não tem aderido ao plano de imunização. “Muitas famílias não aceitam, a gente entende que é por conta das fake news que não têm ajudado, dizendo que a vacina veio muito rápido”, expõe a pataxó. Porém, na medida em que alguns forem tomando a vacina e outros forem percebendo que não houve reação, ela acredita que a adesão melhore. “

Em Brotas de Macaúbas, o sistema da Sesab contabiliza 415 doses recebidas e 168 aplicadas na cidade, o que faz a taxa ficar em 40,5%. A secretária de saúde Giovana Castro esclarece que só recebeu, até agora, 315 doses. Por isso, o número está abaixo do que deveria. “Nós só recebemos 315, essas 100 que estão contando ainda vamos receber, só que, como já saiu do centro de distribuição em Salvador, a contagem foi dessa forma”, explica. Ela garante que já completou 75% das 315 vacinas recebidas. “Não tem como a gente com 100 doses a menos atingir 75%, mas nos 315, atingimos ontem 77%”, acrescenta.

A velocidade de vacinação também é lenta, porque o município só tem, até o momento, dois profissionais para aplicarem as vacinas. Outros dois estão em treinamento para se juntar à equipe. Além disso, os povoados da zona rural, distantes mais de 100 km do centro da cidade, fazem os trabalhadores de saúde perderem quase o dia inteiro em deslocamento. “O município é extenso e a gente tem que ir na casa de cada um deles e a vacina só dura 6 horas depois de aberta, então os agentes de saúde tinham que estruturar a rota a aplicar a dose naquele período. Os profissionais não estavam nem almoçando para poder vacinar”, confessa Giovana. Os 81 idosos acamados já foram vacinados e 163 trabalhadores de saúde.

Já a cidade de Ibiquera, com 4 mil habitantes, segundo o levantamento da Sesab, só aplicou 40 das 100 doses que recebeu, ou seja 40% do total. O prefeito Ivan de Almeida garante que o número está errado, mas não sabia de cor quanto tinham sido vacinados no município. Ele afirma que aplicou pelo menos 70 imunizantes. A prefeitura recebeu 30 novas doses, ontem (8), destinada para 26 idosos de 87 a 89 anos e para 4 profissionais de saúde. O prefeito diz que ainda está averiguando quem são esses idosos. “A gente está fazendo a buscativa desses idosos para ver quem é  que tem mais necessidade”, alega Almeida. Ele estima que as 30 doses sejam aplicadas até amanhã (10).

Por meio de nota, a Sesab informou que monitora os casos das cidades que estão aplicando poucas vacinas em relação ao número que receberam e que ajuda no envio de insumos. Porém a operacionalização cabe a cada prefeitura. A secretaria garante que não é por falta de insumos, pois envia agulhas e seringas para a aplicação das vacinas. O percentual ideal é o de 100%. “Tem que avançar o mais rápido possível, na medida em que chegarem novas doses. No que tange a imunização (por vacina), a cobertura sempre tem que ser maior do que 95% do público-alvo”, explica a pasta.

Sobre as doses ociosas, o órgão ainda comunicou que, “na medida que tivermos isso formalizado pelo município, as doses serão remanejadas para os outros grupos prioritários da própria localidade”, como para idosos e trabalhadores de saúde. A secretaria reforçou que a imunização dos indígenas é feita pelo Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI), vinculado ao Ministério da Saúde (MS). Até então, a Sesab recebeu um comunicado de Porto Seguro solicitando remanejamento de doses e isso será ratificado com o Ministério. Procurado, o MS não respondeu à reportagem até o fechamento. O Ministério Público da Bahia (MP-BA) também não enviou resposta sobre a fiscalização da aplicação das doses.

Foto: divulgação

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