O presidente Bolsonaro obteve uma vitória importante ao se unir ao Centrão e assim ganhar a presidência da Câmara de Deputados e do Senado Federal. Foi uma vitória que mudou o quadro político eleitoral brasileiro em favor de Bolsonaro, mas teve um efeito colateral que poucos analistas perceberam: o enfraquecimento da terceira via e a ascensão de Luiz Inácio Lula da Silva como o único candidato que pode enfrentar Bolsonaro em 2022. Pelo menos por enquanto.
O ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia trabalhava para fazer do DEM uma alternativa liberal de poder em uma aliança com o PSDB e outros partidos com um candidato que poderia ser João Dórea ou Luciano Huck ou qualquer um que representasse a terceira via, entre a extrema direita e a esquerda. Mas ao aceitar a imposição de alguns deputados, especialmente os da Bahia, que queriam apoiar Arthur Lira (PP), ACM Neto, que preside o partido, colocou uma pá de cal em qualquer alternativa partidária de poder que não seja ao lado de Jair Bolsonaro.
O DEM tornou-se linha auxiliar do governo e eliminou qualquer possibilidade de vir a ser uma alternativa de poder nas eleições de 2022. Fala-se à boca pequena que Neto relutou em tomar essa posição, mas que foi puxado pela mão pelo deputado Elmar Nascimento e por outros deputados, todos detentores de cargos no governo federal. Elmar foi um dos críticos mais fortes de Neto, quando ele não deixou a prefeitura para se candidatar ao governo em 2018, alegando inclusive que o ex-prefeito havia pensado só nele. ACM Neto não podia ficar novamente contra a base do seu partido na Bahia, que está unida na ideia de que Bolsonaro será o candidato mais competitivo em 2022.
É possível que seja mesmo, mas o DEM apequenou-se no processo, deixou de ser protagonista, e só lhe resta agora o papel de coadjuvante, obtendo ministérios e lutando pela vaga de vice na chapa do capitão. Nesse sentido, o jogo está jogado e o ex-prefeito deveria esquecer os pruridos e assumir a opção fazendo do seu aliado João Roma, o ministro da Educação. Isso mudará muito pouco o quadro atual, pois a ascensão do Centrão enfraqueceu a estratégia de Dórea, a começar pela ideia de lançar seu vice, Rodrigo Garcia (DEM), como candidato à sua sucessão em São Paulo.
E mais, tornou muito distante uma união de partidos em torno de um candidato, o Biden brasileiro, esperado por grande parte da sociedade brasileira. Com Dórea enfraquecido, com alta taxa de rejeição e pouco conhecido nos grotões eleitorais do país, com Maia saindo do DEM atirando e culpando ACM Neto, com o Centrão preocupado unicamente com cargos e verbas, pouco ficou da possibilidade de ascensão de um nome que represente o centro. Assim, quem voltou a ser protagonista nessa fita foi Lula que, PHD em política, mandou que Fernando Haddad recolocasse sua candidatura imediatamente, marcando posição, mas jogando tudo em uma decisão favorável do Supremo que lhe devolverá os direitos políticos. Lula é candidatíssimo e com a divulgação da verdadeira tramoia entre o juiz Sérgio Moro e os procuradores para condená-lo isso parece cada vez mais próximo.
Com isso, se a eleição fosse hoje a disputa seria fortíssima, mas entre Lula e Bolsonaro e somente entre eles. O mais engraçado é que tanto um quanto outro querem que isso aconteça, pois ambos se fortalecem nessa disputa, que vai polarizar o país. E o ex-prefeito ACM Neto também quer, pois o quadro nacional vai se repetir na disputa estadual. Assim, Neto deveria esquecer os pruridos e indicar João Roma para ser ministro, assim terá uma pasta forte sob seu controle e que poderá influenciar os prefeitos e lideranças políticas do Estado, armando o palanque para sua candidatura ao governo em 2022.