Com o risco de o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), deflagrar processo de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro, tanto partidos governistas como siglas de centro iniciaram na manhã desta segunda-feira (1º) ofensiva para impedir que o deputado federal cumpra com a ameaça em suas últimas horas no cargo.
Nas últimas horas, deputados de partidos como PSDB e MDB, que apoiam Maia, têm telefonado para o parlamentar na tentativa de demovê-lo do que chamam de uma atitude precipitada.
Em paralelo, segundo relatos feitos à Folha, o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, também tem acionado líderes partidários para que eles participem do esforço, que foi apelidado de “Acalma, Maia”.
A ameaça foi feita por Maia em reunião no domingo (31), após o DEM, partido a que ele é filiado, ter decidido deixar o bloco de apoio a Baleia Rossi (MDB-SP) na eleição para o comando da Câmara, que ocorre na noite desta segunda-feira —o favorito é Arthur Lira (PP-AL), líder do centrão e com apoio de Bolsonaro.
O presidente da Câmara afirmou ter em mãos um parecer jurídico favorável ao processo e que pode ser usado para embasar uma eventual decisão de abertura de um impeachment de Bolsonaro.
A afirmação alarmou até mesmo aliados de primeira hora de Maia, que fazem oposição a Bolsonaro. Para eles, um gesto nesse sentido poderia soar oportunista e prejudicar até mesmo a construção de uma frente ampla contra Bolsonaro em 2022.
Isso porque, na avaliação deles, sem haver clima político para um impeachment, a derrubada de um processo em plenário acabaria apenas fortalecendo Bolsonaro, que usaria o episódio como uma demonstração pública de força.
A avaliação é compartilhada, inclusive, por deputados de esquerda, para os quais o gesto abrupto de Maia teria como único efeito colateral prejudicar a biografia política do deputado federal, já que hoje as chances de um impeachment prosperar são baixas.
A aposta tanto do centro como da esquerda é a de que, independentemente de quem ganhe a disputa à sucessão de Maia, deve ser pressionado a tomar uma atitude sobre o tema até o final do ano diante de uma perspectiva de baixo crescimento econômico, da piora da pandemia do coronavírus e do aumento dos protestos populares contra Bolsonaro.
Segundo um aliado de Maia, que também é contra a abertura de um impeachment, integrantes do mercado financeiro também têm tentado conversar com o presidente da Câmara para tentar demovê-lo.
Até mesmo o vice-presidente Hamilton Mourão, principal beneficiado com um impeachment de Bolsonaro, adotou discurso contrário a um gesto de Maia.
“Como vice-presidente, afirmou que não há nenhuma motivação para a aceitação de pedido de impeachment do nosso presidente, o qual tem trabalhado incansavelmente para superar os desafios que o século XXI impõe ao Brasil”, escreveu nas redes sociais.
Não é a primeira vez que Maia ameaça abrir um processo de impeachment devido à ofensiva do governo de desidratar a candidatura de Baleia.
Foto: EVARISTO SA/AFP