As famílias brasileiras mais vulneráveis foram as que mais sofreram durante esta pandemia do coronavírus. Não conseguem criar uma poupança para servir de colchão e amenizar os impactos do desemprego e da falta de oportunidades e se tornam dependentes dos programas de transferência de renda como o Bolsa Família e o Auxílio Emergencial.
O consultor econômico da Fecomércio-BA, Guilherme Dietze, avalia que o Auxílio foi criado no ano passado para ajudar especificamente neste período de calamidade pública, e que teve o seu término no final de dezembro. “Embora, com a segunda onda aparecendo de forma expressiva, de números elevados de contaminações, mortes e internações, surge de novo no debate político a necessidade de voltar o auxílio, porém com outro valor”, pontua. “O primeiro programa, o Bolsa Família, por sua vez, está consolidado e tem outro perfil, muito mais de tirar as famílias da extrema pobreza, para dar o mínimo de condições de consumo”.
E a pergunta recorrente neste início de ano tem sido a seguinte: o Bolsa Família poderá substituir o consumo das famílias com o fim do Auxílio Emergencial? Guilherme Dietze avalia que para responder a essa pergunta é importante olhar os dados disponibilizados até o momento. “Enquanto o auxílio emergencial teve distribuído R$ 17 bilhões ao longo de nove meses no estado da Bahia, o montante do Bolsa Família, em 12 meses, foi de 4,1 bilhões, ou seja, pouco mais de quatro vezes”, esclarece o economista.
“Só esses dados já dão a dimensão da proporcionalidade de cada programa. Mas há outra variável interessante, a do percentual da população beneficiada por cada um deles. No caso do Auxílio Emergencial, os recursos chegaram para quase 42% dos cidadãos, enquanto no Bolsa Família, o percentual fica nos 14%”, afirma Dietze.
Com uma injeção significativamente maior, o impacto na ponta do auxílio emergencial na economia baiana também é mais relevante. Fazendo uma relação sobre o benefício e o faturamento do comércio na Bahia, o AE participaria com 16,7%, sendo 4% para o Bolsa Família.
Guilherme relata que o auxílio emergencial abrangeu muito mais gente e o seu valor foi de quatro anos de Bolsa Família. “Esse último não tem a condição de substituir a capacidade de consumo, e nem é o seu propósito de aumentar a demanda agregada, mas aliviar a tensão das famílias em situação vulnerável”.
Mas como será o consumo das famílias então? Para o economista outra variável que pode contribuir para ajudar nas vendas é a poupança. “No ano passado, entre depósitos e retiradas, houve um saldo positivo de 166 bilhões de reais, o maior desde o início do plano real. Infelizmente, não há o dado regional para dimensionar o possível impacto na economia da Bahia”, avalia Guilherme.
“De qualquer forma, a situação atual com a chegada da segunda onda preocupa. Porque mesmo a poupança tem um perfil de ser um recurso de emergência e há muita preocupação no seu gasto. Somente com a vacinação em grande escala é que trará confiança para as famílias poderem ter uma expectativa mais favorável e aumentarem a sua intenção de consumo de forma consistente e de longo prazo”, conclui o consultor econômico da Fecomércio-BA.
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