O impeachment do governo Bolsonaro é hoje uma realidade e, tantos são os erros do governo que, se as forças políticas se unissem, haveria possibilidade de sua concretização. O descaso de Bolsonaro frente à pandemia, seus erros na política ambiental, a absurda política externa, o engodo da política econômica e, mais recentemente, o crime de saúde pública perpetrado contra a população de Manaus seriam suficiente para que a oposição botasse a boca no trombone e tentasse mobilizar o povo para a destituição do presidente. Mas a verdade é que a oposição não quer o impeachment.
Note o leitor que, com exceção de uns poucos parlamentares, a oposição a Bolsonaro tem sido de uma incompetência sem par. A imprensa tem feito seu papel e divulgado os erros dramáticos desses dois anos de governo, sejam eles com relação à pandemia ou a economia. Mas os partidos políticos de oposição e os deputados contrários ao governo não reverberam essas críticas. É verdade que há exceções e que alguns deputados isolados assumiram esse papel, mas os partidos de oposição propriamente ditos estão em “modo espera” e ainda não se engajaram numa luta verdadeira para estimular a derrubada do governo. Os motivos não levam em conta o país, mas os interesses particulares de cada agremiação.
O PT, por exemplo, que deveria comandar a cruzada contra Bolsonaro, faz uma oposição pífia. Apesar de ter nas mãos um prato feito para as críticas, o partido se mantém quieto, com Lula, seu principal líder quase mudo, e com senadores de peso, entre os quais o baiano Jaques Wagner, limitando-se a críticas esparsas e até admitindo apoios à bancada do governo. Bem diferente da oposição à ex-presidente Dilma Rousseff, que pedia o impeachment da presidente todos os dias e não poupava todo tipo de crítica. Há quem diga que trata-se de uma estratégia, pois o sonho de consumo do PT seria manter a polarização para assim viabilizar o confronto Bolsonaro X Lula nas eleições de 2022. E não são poucos os que afirmam que Bolsonaro também torce por esse cenário.
O PT deveria ser o grande opositor de Bolsonaro e Lula o seu maior crítico, mas esse papel tem ficado timidamente nas mãos dos pequenos partidos de esquerda e de Ciro Gomes.
A razão disso pode ser efetivamente a expectativa de Lula voltar ao poder enfrentando Bolsonaro, mas os demais partidos, inclusive aqueles como DEM e PSDB, que teoricamente seriam oposição ao governo, tampouco se mostram interessados no impeachment. Há uma forte razão política para isso, dado que a destituição de Bolsonaro levaria o general Mourão ao governo e ele parece muito mais preparado para governar do que o capitão, o que poderia dificultar o desejo desses partidos voltarem ao poder. É um dado importante, mas ainda assim é um erro não investir no tema, afinal, não se faz impeachment apenas para destituir o presidente, se faz também para enfraquecê-lo politicamente. (EP – 25/01/2021)