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ADESÃO À VACINA DISPARA NA EUROPA, INDICA LEVANTAMENTO

Redação - 25/01/2021 09:00

A porcentagem de pessoas que querem se vacinar contra a Covid-19 cresceu até 20 pontos em dois meses nos principais países europeus, segundo pesquisa divulgada nesta sexta (22) pelo instituto britânico YouGov. Ao mesmo tempo em que aumenta o interesse em se vacinar, porém, faltam doses de vacina no continente, o que já leva alguns governos a ameaçar processar os fabricantes.

A adesão à vacina cresceu nos oito países pesquisados pelo YouGov ao longo do tempo. Os maiores saltos foram na Suécia (21 pontos em dois meses) e no Reino Unido (20 pontos desde novembro). Nesses dois países, os que querem se imunizar ou já receberam a vacina são 66% e 81%, respectivamente.

A menor taxa continua sendo a da França: menos da metade (46%) se dizem propensos a tomar o imunizante. Os franceses são agora a única população em que os interessados na vacina não são a maioria (em novembro, as taxas também eram minoritárias entre alemães e suecos). Embora muito abaixo da dos vizinhos, a porcentagem de adesão atual na França é a maior já registrada desde novembro e quase o dobro da de meados de dezembro, quando havia descido para apenas 24%.

Dentre os europeus, o Reino Unido é o país mais avançado na vacinação: a inoculação começou cerca de um mês antes que os vizinhos e os britânicos já imunizaram 8% de sua população, o triplo da taxa da Espanha e o quádruplo da taxa alemã.

O governo britânico também já deu aval para o uso de três imunizantes -Oxford/AstraZeneca, Pfizer/BioNTech e Moderna-, enquanto a União Europeia aprovou apenas as duas últimas, que têm uma logística de armazenamento e distribuição mais complexa e mais cara. A expectativa é que a EMA (agência regulatória da UE) aprove o produto da Oxford na próxima semana.

Além de ter começado mais tarde e ter aprovado menos produtos até agora, a União Europeia tem sofrido atrasos por falta de imunizantes. Nesta semana, a vacinação chegou a ser interrompida em regiões da Alemanha, da Itália e da Espanha, depois que a Pfizer reduziu sua produção -de acordo com a empresa, o corte é temporário e tem como objetivo aumentar a capacidade de produção.

Na Itália, a média diária de injeções passou de 80 mil para 28 mil, e, nas regiões mais afetadas, os números caíram até 60%. O governo italiano diz ter sido informado pela Pfizer que deve haver redução também na próxima semana, de cerca de 20% e, em resposta, ameaça processar a fabricante. A Polônia recebeu apenas metade das doses e fala em ir à Justiça contra o laboratório, por quebra no contrato de fornecimento, se o fluxo não voltar ao normal em fevereiro. Já a Hungria aprovou em caráter emergencial a vacina Sputnik V, produzida pela Rússia, e cogita aprovar também produtos fornecidos pela China, ainda que eles não tenham o aval da UE.

A escassez prejudica até mesmo países que fabricam as vacinas, como a Alemanha, onde fica a sede da BioNTech. No estado mais populoso, a Renânia do Norte-Vestfália, as injeções foram suspensas nesta semana em hospitais e asilos e centros de vacinação de idosos ficarão fechados até fevereiro. Acesso fácil e seguro aos imunizantes é uma das principais medidas para evitar a resistência da população às vacinas, segundo cientistas do comportamento que se dedicam a melhorar políticas de saúde pública.

O QUE A CIÊNCIA COMPORTAMENTAL SUGERE PARA ELEVAR A ADESÃO A VACINAS

– AMBIENTE (aumentam a adesão de quem não têm restrição prévia)

  • Local – quanto mais próximo, conhecido, conveniente e confiável for, maior a aceitação. Na atual pandemia, é importante evitar aglomeração e contágio
  • Custo da vacinação – evitar a necessidade de gastos para locomoção e horários que atrapalhem o trabalho das pessoas
  • Tempo gasto – permitir agendamento, evitar filas, ampliar horários
  • Tratamento – preparo dos profissionais de saúde para acolher, dar segurança e responder a dúvidas tanto sobre a doença quanto sobre as vacinas
  • Informação – divulgar mensagens didáticas, acessíveis e claras
  • Lembretes – envio de emails, mensagens de texto ou mensagens telefônicas para lembrar os pacientes de que estão prestes a tomar uma vacina
  • Padrões – tornar vacinas a regra, de modo que seja preciso se manifestar caso a pessoa não deseje tomá-la

– INFLUÊNCIA SOCIAL (ajudam a convencer quem está em dúvida)

  • Visibilidade positiva – reforçar que a maioria quer se vacinar, em vez de focar a minoria que recusa os imunizantes. Divulgar cenas de pessoas sendo vacinadas e colocar postos de vacinação em locais visíveis
  • Janela aberta – enfatizar mudanças de posição a favor da vacina; ouvir que os outros estão cada vez mais aderindo a um comportamento induz as pessoas a fazer o mesmo
  • Argumentos – treinar profissionais de saúde para reconhecer motivos de resistência à vacina e desanuviá-la; pesquisas mostram também que eles são mais propensos a recomendar a imunização quando foram vacinados
  • Referências – amplificar o apoio de formadores de opinião – líderes religiosos, cientistas conhecidos, líderes comunitários
  • Linguagem – priorizar narrativas pessoais em vez de argumentos gerais baseados em estatísticas
  • Propósitos – ressaltar que a vacinação tem efeito coletivo e protege os mais vulneráveis

– MOTIVAÇÃO (evita que quem está em dúvida desista)

  • Antecipação – a confiança na vacina precisa ser construída antes que as pessoas formem uma opinião contra. Isso passa por administrar expectativas e esclarecer dúvidas com transparência, inclusive sobre efeitos adversos, bem antes do início da vacinação

– REGULAÇÃO (para quem resiste às vacinas)

  • Requisito obrigatório – tornar a vacinação uma condição para viagens, benefícios, trabalho ou estudo. Pesquisas mostram que estratégias que tentam mudar a opinião da pessoa têm poucos resultados

– O QUE DIFICULTA A VACINAÇÃO:

  • medo de contágio no local de vacinação
  • influência de formadores de opinião contrários à vacinação
  • opinião contrária sobre a vacina em grupos do qual a pessoa participa (igreja, empresa, clubes, roda familiar ou de amigos)
  • visibilidade excessiva de pessoas ou teorias contrárias à vacina

Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

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