O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020 tem neste domingo (24) o segundo dia de aplicação de provas, com 90 questões sobre ciências da natureza e matemática. Em meio à escalada de casos de coronavírus no país (com estados apresentando alta de mortes), são esperados 2,6 milhões de candidatos. As provas seguem suspensas no Amazonas e em dois municípios de Rondônia (Rolim de Moura e Espigão do Oeste), medida adotada para tentar conter a pandemia nessas regiões.
2º dia de Enem 2020:
O primeiro dia de provas, no domingo passado (17), teve taxa recorde de abstenção: 51,5% não compareceram. Até aquela data, mais de 8 mil inscritos haviam tido o pedido aprovado para fazer a reaplicação, em fevereiro, porque estavam com diagnóstico comprovado de Covid-19. A aplicação foi marcada pelo caso dos candidatos impedidos de fazer o exame, porque as salas estavam lotadas, mesmo com o recorde de abstenção. Por causa disso, a Defensoria Pública da União pediu mais uma vez a suspensão do exame deste domingo, mas a Justiça Federal manteve a prova.
Em ao menos 11 dos 14.447 locais de aplicação, candidatos foram barrados porque as salas estavam lotadas e não era possível garantir o distanciamento. Segundo o governo, os casos ocorreram em seis cidades (Curitiba, Londrina, Florianópolis, Canoas, Caxias do Sul e Pelotas), mas há relatos de mais ocorrências além daquelas registradas inicialmente.
Os candidatos que passaram por esta situação poderão optar por fazer o 2º dia de provas neste domingo (24) e pedir reaplicação da que perdeu, ou não comparecer ao 2º dia e pedir a reaplicação dos dois exames, segundo o Inep. O Enem é considerado o maior vestibular do país, e a nota serve para disputar vagas em universidades e ter acesso a programas de bolsas (Prouni) ou financiamento de mensalidade (Fies).
Cuidados com a prova na pandemia
Infectologistas ouvidos pelo G1 dizem que o risco de pegar Covid-19 é maior nos deslocamentos até o local da prova do que durante a avaliação. Nas salas de provas, a dica é ficar de olho na ventilação adequada. “A gente fica falando para todo mundo se manter nas suas bolhas sociais e, agora, vai estourar a bolha no Brasil todo ao mesmo tempo. É irresponsável”, afirma Ethel Maciel, epidemiologista e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).
“São jovens que deveriam estar evitando aglomerações e que vão ser forçados a sair de casa, a pegar transporte público e a talvez encontrar grandes grupos nos corredores e portões”, afirma Alexandre Naime Barbosa, chefe da infectologia da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI). “Se for ver todo o processo, a realização da prova em si é o menor dos perigos. A mudança de rotina, sim, vai impactar o número de casos.”
Vitor Mori, membro do Observatório Covid-19 BR e pesquisador na Universidade de Vermont, nos Estados Unidos, aponta a ventilação das salas de prova como outro ponto crítico na realização do Enem. Para ele, não tem sentido discutir percentual de ocupação de salas de aula ou distanciamento em metros se não houver ventilação suficiente. “Falam de ventilação de forma superficial. E a principal transmissão é pelo ar. Se não tiver protocolos sérios de troca de ar e monitoramento, não tem como garantir proteção das pessoas”, afirma. Mori defende que deveria haver um controle dos níveis de gás carbônico nas salas de aula para checar se a troca de ar ocorre de forma correta.
“Sempre argumento que estamos parados na concepção da pandemia de março. Não atualizou [os protocolos]. Quando os protocolos são errados e não funcionam, os casos aumentam.”. “Essa coisa do 1,5 metro parte do princípio de que a transmissão acontece por gotículas maiores. Quando a gente fala, tosse, espirra, a gente emite partículas maiores, mais pesadas, que caem a distância mais curta. Mas a transmissão também ocorre por partículas mais leves, aerossóis, que ficam flutuando no ar e se espalham na sala. É como fumaça de cigarro. Você sente o cheiro, mesmo estando a mais de 1,5 metro. Em ambientes fechados, o que importa mais é a ventilação”, afirma.
Foto: Reuters