Os resultados das eleições municipais consolidaram mudanças na correlação de forças políticas nos estados com impactos nas disputas para os governos estaduais em 2022. O crescimento dos partidos nos estados, tanto em número de prefeituras quanto em número de eleitores governados nos municípios, dará impulso a líderes políticos que saíram vitoriosos nas urnas.
Este será o caso, por exemplo, do DEM na Bahia e no Rio de Janeiro, do PSD no Paraná e em Minas Gerais, do PP no Piauí e em Alagoas, do PDT no Maranhão e do PSDB no Rio Grande do Norte. O PSDB de João Doria confirmou sua força no estado de São Paulo ao eleger prefeitos de 172 cidades paulistas, número levemente acima das 164 conquistadas há quatro anos. A conta inclui a capital paulista, onde Bruno Covas foi reeleito e derrotou Guilherme Boulos (PSOL).
Ao mesmo tempo em que se manteve firme em São Paulo, os tucanos minguaram em estados como Goiás, Paraná, Mato Grosso e Pará, deixando de figurar entre forças políticas relevantes nestes estados. Por outro lado, o partido cresceu no Rio Grande do Norte, saindo de 10 para 31 prefeitos, incluindo a capital. O desempenho fortalece a pretensão do ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, de enfrentar a governadora Fátima Bezerra (PT) daqui a dois anos. O DEM avançou no Rio de Janeiro e na Bahia e será a sigla que mais pessoas governará nos municípios desses estados.
No Rio, o partido governará cerca de 8 milhões de pessoas após sair de 2 para 10 prefeituras, incluindo a capital com o prefeito eleito Eduardo Paes. Na Bahia, o DEM governará 4,5 milhões de pessoas em 37 prefeituras: levou 9 das 30 maiores cidades do estado. O resultado deve esquentar a disputa pelo governo baiano, que deve opor Jaques Wagner (PT) e ACM Neto (DEM) em 2022. Principal adversário no estado, o PT ganhou 34 prefeituras na Bahia, mas sofreu reveses no segundo turno ao perder em Feira de Santana e Vitória da Conquista. Governará 750 mil baianos nos municípios.
Colocando na balança o número de eleitores, os partidos da base do governador Rui Costa governarão nos municípios 6,7 milhões de pessoas. A oposição, por sua vez, governará 7,1 milhões. Outros 775 mil estarão em cidades governadas por PL e PDT, partidos que são base tanto de Rui Costa quanto de ACM Neto. Na correlação de forças, PSD e PP tornaram-se ainda mais importantes nas composições para a disputa do governo baiano. Liderado pelo senador Otto Alencar, o PSD terá 106 prefeitos, enquanto o PP terá 91.
O DEM também avançou em Minas Gerais: terá 84 prefeituras —mesmo número do PSDB— e será o segundo partido em número de eleitores governados. Ficará atrás apenas do PSD, que se consolidou como uma das principais forças políticas de Minas e governará 4,5 milhões de mineiros em 78 cidades. Os resultados colocam dois nomes no tabuleiro da sucessão do governador Romeu Zema (Novo), que deve disputar a reeleição: o prefeito reeleito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), e o senador Rodrigo Pacheco (DEM).
Minas Gerais também será a principal base eleitoral do PT em número de eleitores governados nos municípios –1,8 milhão ao todo. O partido caiu de 52 para 28 prefeituras, mas comandará Contagem e Juiz de Fora, terceira e quarta maiores cidades do estado. Além de Minas, o PT terá a maior parte de seus prefeitos na Bahia, Piauí e Rio Grande do Sul. Nestes três estados, contudo, a maioria dos petistas eleitos governará cidades de pequeno ou médio porte. No campo da centro-esquerda, o PSB perdeu força em Pernambuco. Apesar de ter mantido o Recife com a eleição de João Campos, caiu de 67 para 53 prefeituras no estado.
Ainda assim, o partido terá Pernambuco como seu principal centro gravitacional. De cada três brasileiros governados por um prefeito do PSB, um estará em cidades pernambucanas. Esta concentração é ainda maior no caso do PDT: dos 10,7 milhões de brasileiros que serão governados por prefeitos do partido a partir de 2021, 4,5 milhões estarão no Ceará. O PDT elegeu José Sarto em Fortaleza e passará de 49 para 67 municípios do Ceará. No campo da oposição, houve uma mudança na correlação de forças com a ascensão do PSD, legenda ligada ao ex-vice-governador Domingos Filho.
O partido tomou o lugar do MDB de Eunício Oliveira como principal força da oposição aos irmãos Cid e Ciro Gomes no Ceará. Líderes de partidos do centrão mostraram força no Nordeste. No Piauí, o PP saltou de 40 para 81 prefeituras, fortalecendo o senador Ciro Nogueira. O avanço acontece depois de ele ter rompido com o governador Wellington Dias (PT), pavimentando sua pretensão de disputar o governo do estado daqui a dois anos. Movimento semelhante aconteceu em Alagoas, onde o PP do deputado federal Arthur Lira saiu de 11 para 28 prefeituras. Apesar do crescimento robusto, o partido ainda está atrás do MDB do governador Renan Filho, que vai governar 37 municípios alagoanos a partir do ano que vem.
Já a vitória de João Henrique Caldas (PSB), o JHC, em Maceió fortalece outro nome no tabuleiro: o senador Rodrigo Cunha (PSDB), que foi um dos principais fiadores da candidatura do nome do PSB. O tucano, por outro lado, tem contra si o desempenho de seu próprio partido na eleição deste ano: o PSDB tinha 18 prefeituras em Alagoas e terá apenas duas a partir de 2021. No Maranhão, o PC do B de Flávio Dino perdeu espaço e caiu de 45 para 22 prefeitos. O campeão em prefeituras no estado será o PDT do senador Weverton Rocha, que se articula para ser candidato ao governo do estado na sucessão de Dino. O PDT, inclusive, apoiou no segundo turno em São Luís a candidatura de Eduardo Braide (Podemos), que acabou saindo vitorioso das urnas. O movimento implodiu a base aliada de Dino, que apoiou Duarte Júnior (Republicanos).
Foto: divulgação