Depois de longos meses de agonia, a bolsa de valores brasileira conseguiu em novembro, finalmente, o feito de voltar ao seu patamar pré-pandemia, em meio à uma onda de otimismo nos mercados globais com o avanço nas vacinas que têm a missão de colocar um fim à pandemia de coronavírus.
Esse movimento, porém, é bastante desigual entre as dezenas de empresas que estão na B3, a dona da bolsa brasileira. Enquanto há algumas que seguiram voo próprio e conseguiram subir com força enquanto o resto do mundo desmoronava, outras ainda amargam perdas expressivas e seguem bem longe do ponto de que saíram antes da crise.
Na divisão entre ganhadoras e perdedoras, o jogo ainda pende para o negativo: das 100 ações mais negociadas da bolsa, 36 já estão no positivo em 2020, isto é, já estão valendo mais agora do que no começo do ano. As 64 restantes ainda estão no vermelho, de acordo com apuração da CNN Brasil.
Entre as maiores altas do ano, há grande destaque para empresas de comércio eletrônico e exportadoras. O preço de duas delas, inclusive, já dobrou desde o início do ano: é o caso da fabricante de equipamentos Weg, com alta de 125%, e da varejista Magazine Luiza, com 99%.
Via Varejo, a siderúgica, a Bradespar (uma das sócios da Vale, com alta de 58%) a mineradora Vale (+52%) e o frigorífico Marfrig (+50%) são outras que aparecem no topo das ganhadoras da pandemia.
Na outra ponta, há uma mistura repleta de companhias de viagem e varejistas, como lojistas e shopping centers, entre outras, que tiveram o miolo do negócio prejudicado pelas quedas de circulação de uma crise sanitária de proporções globais.
Entre as piores quedas do ano, estão a companhia de viagens CVC (-60%), a fabricante de aviões Embraer (-57%), a rede educacional Cogna (antiga Kroton, com -56%) e a dona de maquininhas Cielo (-55%).
A maior queda continua sendo da resseguradora IRB , que ainda amarga perdas de 80% em 2020 depois de denúncias de irregularidades em seus balanços.
O Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, acumula queda de 5% desde o início do ano.
O ranking foi feito pelo economista Carlos Heitor Campani, professor de finanças do Instituto Coppead de Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppead/UFRJ), e leva em consideração a variação acumulada desde o início de 2020 até o fechamento da terça-feira, (24).
Ele considerou o desempenho das 100 empresas mais negociadas da bolsa, que estão reunidas em um outro índiceda B3, o IBrX 100. Ele é um pouco mais amplo que o Ibovespa, que também reúne as mais negociadas, mas com uma lista mais restrita, de 77 papéis atualmente. Em 2020, o IBrX está em queda de 4%.
Investir na alta ou na baixa?
Para quem acha que já é hora de voltar a investir na bolsa de valores, qual é a melhor estratégia: olhar para aquelas empresas que ficaram para o fim da lista e que ainda têm bastante espaço para subir em uma eventual recuperação, ou para as que estão na parte de cima e que, mesmo já valorizadas, são as que estão mais sólidas nessa saída de recessão?
“Como não tem como acertar [quais já subiram muito e quais ainda vão subir], o ideal é ter um pouco lá e um pouco cá”, disse Campani.
“Essas que estão lá embaixo e caíram mais são também as que tem mais potencial de subida agora, mas as que subiram tiveram bom desempenho também por terem feito alguma coisa certa.”
Ele ressalta que o risco e as incertezas ligados ao choque do coronavírus na economia e na bolsa ainda não passaram e as altas recentes não significam certeza de um céu agora aberta pela frente.
Uma maneira de tentar contornar minimamente essas incertezas, sem precisar deixar totalmente a renda variável, é olhar para a volatilidade de cada ação.
O indicador, calculado em porcentagem, mede o tamanho das variações e a falta de tendência clara de cada papel – quanto mais alto, maiores os riscos de ter fortes ganhos mas também fortes perdas com ele. Volatilidades acima de 80% já costumam ser consideradas altas.
“A pessoa que é mais avessa ao risco pode colocar um pouco na bolsa olhando para as ações que tenham menor volatilidade; a chance de elas terem uma queda brusca de um dia para o outro são menores”, diz.
Foto: divulgação