Devem permanecer em alta pelo menos até o final deste ano, os preços de alimentos básicos, como arroz, carnes, feijão e óleo de soja. Economistas apontam que fatores como o dólar em alta, a oferta ainda escassa desses produtos por causa da entressafra e o auxílio emergencial, mesmo reduzido, são decisivos para que os preços dos alimentos continuem subindo.
Em outubro, a inflação ao consumidor subiu 0,94%, pela prévia do índice oficial, o IPCA-15, divulgado nesta sexta-feira (23) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foi a maior alta do indicador para o mês desde 1995. Alimentos e bebidas ficaram 2,24% mais caros e responderam por 50% da alta.
Segundo o Estado de S. Paulo, o coordenador do Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Getulio Vargas (FGV), André Braz, acredita que não há no radar indicações de que os preços da carne, do arroz e do feijão vão recuar. “Há chance de esses produtos subirem mais até o final do ano e melhora só em 2021 com novas safras e a expectativas, quem sabe, de uma taxa de câmbio menor.” As primeiras prévias de outubro indicam que os alimentos continuam subindo cerca de 2% este mês. No ano, a alta dos alimentos chega beira 10%.
“A produção de alimentos demora a ser ajustada, é diferente da manufatura”, observa Fabio Bentes, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio. Esse seria, na sua avaliação, outro fator que indica que a inflação deverá continuar subindo acima do índice geral de inflação até dezembro. “Vamos ter picos nos alimentos, mas não vejo sustentabilidade por falta de demanda mesmo.”
Já a consultora econômica Zeina Latif avalia que “a inflação de alimentos tem implicações importantes, pega as camadas mais populares, justamente em um momento de redução do valor do auxílio emergencial, é um impacto muito difícil”.
Segundo ela, há também um efeito macroeconômico que deve ser monitorado: os preços de alimentos, por terem muita visibilidade, contaminam outros preços. “É difícil para as empresas não repassarem preços e é preciso acompanhar o comportamento da inflação e as estratégias do Banco Central podem ter de mudar. Também acende um alerta para a discussão da questão fiscal”.
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Foto: Josenildo Almeida