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FRANKLIN OLIVEIRA: MEU VOTO PARA VEREADOR

Redação - 05/10/2020 06:00 - Atualizado 05/10/2020

      Esse ano tem sido muito difícil para todos nós. Eu por exemplo há seis meses não saio de casa. Vivo sofrendo com a doença e morte de amigos e com as tentativas de volta às aulas presenciais articuladas pelas autoridades de plantão nos bastidores. Confesso que cheguei a ter dúvidas sobre se deveria sair de casa para votar esse ano. De um lado, por termos desta vez apenas dois votos, diferentemente dos seis que tivemos em 2018, o que exige que acertemos “na mosca”, e do outro lado, por fazer um balanço sócio-político negativo de Salvador nesses quatro anos.

      Vivi um tempo em que as eleições eram momentos de disputa ideológica entre esquerda e direita quando estive ao lado de várias vitórias da primeira. Mas o que se verifica hoje é a substituição da disputa político-ideológica pelo anuncio de obras e outros interesses disfarçados de “civilidade”.  A Câmara Municipal vive uma situação de quase letargia, dado o seu atrelamento ao prefeito. Minha insatisfação se estende, inclusive, para a oposição nesta casa, que não se qualificou para ultrapassar as paredes da Câmara Municipal. Para isto deve ter contado certa acomodação às “tentações” da máquina pública, os cargos da mesa, as investidas do prefeito ACM Neto e seu astronômico orçamento, maior do que dez secretarias municipais, e superior aos recursos do próprio Palácio Thomé de Souza.

      Desse modo, enquanto curtimos uma Salvador “para inglês ver”, desatentos as mais modernas formas urbanas e democráticas do planeta, na política vivemos a mesma situação social de 2012, ano da primeira eleição do atual prefeito, onde se registra secretarias – como as da Reparação Social e a da Cultura -, que vivem à custa de esmolas do Poder Público. Quatro anos de legislatura municipal não conseguiram mudar esta realidade, nem tornar nossa vida política mais inovadora, nem estimular a participação popular, e muito menos minorar a situação social dos bairros populares que continuam vivendo sob a forte ação do tráfico. Não admira o desastre que a pandemia causou nos bairros populares de Salvador.

      Mas mesmo com todas as ressalvas minhas dúvidas em votar não se sustentariam, em função das minhas criticas ao sistema, e eu certamente acabaria votando em algum candidato da oposição.  Mas escrevo esse artigo para demonstrar a satisfação de poder votar agora com alegria pela decisão do professor universitário Fábio Nogueira de concorrer a uma vaga na Câmara Municipal. É um colega que conheço há muito tempo e posso responder pela coerência de suas atitudes. Trata-se de uma pessoa estudiosa, jovem e extremamente qualificada, e com um currículo profissional e político que o credencia a contribuir bastante com uma casa que não se estaca pela qualidade política.

      Imagine ter na Câmara Municipal um Doutor em sociologia pela USP, o único entre mil e quinhentos candidatos? Ter um Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, um professor da UNEB e um escritor de importantes livros? Tudo isso se encontra na pessoa do professor Fábio Nogueira. Sua estrela na política é impressionante. Em apenas quatro anos se elegeu presidente municipal e estadual do PSOL, concorreu a prefeito de Salvador (2016) e a Senador da República (2018), destacando-se nos debates da TV e rádio e reunindo, nesta última, 177 mil votos, a maior votação dos quinze anos de história do PSOL na Bahia.

      Mas se o currículo profissional e político é importante, não podemos esquecer-nos da sua ampla visão. Fábio Nogueira foi um dos primeiros a entender a necessidade da unidade preservando relações institucionais com os partidos de esquerda. Defensor das causas antifascistas e anti-racistas reconheceu imediatamente a importância do movimento Vidas Negras Importam subscrevendo a decisão do Diretório Nacional do PSOL do financiamento igualitário de candidatos negros e brancos que posteriormente seria aprovada pelo STE.

      A Câmara Municipal precisa qualificar o seu debate e a presença de um quadro intelectual como o professor Fábio Nogueira pode contribuir muito para enfrentar discussões relevantes para a cidade, como a da qualidade de vida, a revisão da LOUOS e do PDDU, a necessidade do aumento das iniciativas municipais na educação, o combate ao racismo e a adoção de políticas públicas de reparação, a inclusão social das comunidades populares através de parcerias em torno da coleta de lixo, educação ambiental e pequenas obras, o fortalecimento da fiscalização dos locais de trabalho e o planejamento da saúde que preveja a ocorrência de outras pandemias.

      Nestas eleições vale à pena sair de casa para votar no professor Fábio Nogueira, número 50000. A cidade agradece.

*Franklin Oliveira é Pós-Doutor em História pela Universidade de Coimbra, é escritor com sete livros publicados e professor aposentado das duas orquestras sinfônicas da Bahia.

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