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DRAG QUEEN SUZY BRASIL VIRALIZA COM LIVES CÔMICAS

Redação - 17/08/2020 16:27

Acostumada a lotar casas de shows nas noites LGBT, a drag queen Suzy Brasil teve que se adaptar ao dito novo normal. Após contrair coronavírus em março, o professor de Biologia e criador da personagem, Marcelo Souza, decidiu usar ainda mais a internet a favor de sua arte. “Comecei a fazer umas lives de brincadeira, sem avisar, com outras drags. Até umas probidonas, em que a gente fala um monte de coisa apimentada. De repente, vejo 500, 1 mil, 2 mil… Bombou”, conta ele, que se traveste há 26 anos e, só no período de isolamento, ganhou mais 40 mil seguidores.

Na realidade, o ambiente das redes sociais não é algo inédito para Suzy. A caricata, cheia de humor, já gravava vídeos para o mundo digital há alguns anos. “Sempre foi algo que deu retorno de público, alguns vídeos viralizam, as pessoas acham graça e a gente precisa rir nesse momento”, avalia.

Marcelo conta que viu o público, antes restrito, também diversificar. “Hoje, até criança me manda mensagem. Não pelo conteúdo. Mas porque acham a figura da Suzy engraçada, uma coisa meio palhaça”, observa. Com isso, Suzy, que já foi conhecida como a drag brasileira mais desbocada do país, ficou mais, digamos, comportada. “Tenho muita preocupação com quem está assistindo. Uma coisa é ter uma personagem que veio do gueto, falando para um público na noite. Outra é na internet que você não sabe quem está do outro lado, é uma plateia heterogênea. Então, cortei todos os palavrões. E recorro muitas vezes ao dialeto iorubá porque isso, sim, só uma parte manja do negócio”, justifica.

O mesmo aconteceu com o que chama de bullying entre colegas. “Sempre fizemos apresentações pegando no que podia ser o ponto fraco da outra. Então, tinha a careca, a gorda, a feia. Hoje, tudo isso é um tabu. E é bom que seja. Precisamos rever a piada. Eu mesma já tive que deletar coisas que pensei: ‘Isso aqui vai dar B.O.’”, confessa.

Um destes “B.O.s” nem foi com ela diretamente. Mas numa live que Suzy comandou. O convidado era Marcos Caruso e ao responder uma pergunta com certa dubiedade, algumas pessoas da plateia virtual da drag queen acreditaram que o ator havia assumido a bisexualidade, o que foi negado posteriormente por Caruso ao Extra. “Eu fiquei muito desconfortável com tudo isso, porque o Caruso é uma pessoa superdiscreta e eu prometi a ele que não teria nada polêmico, que não perguntaria da vida privada dele. O que ocorreu, eu acho, é que ele sabia que falava para uma maioria ali LGBT e usou as palavras ‘parceira ou parceiro’ num contexto. Tiraram isso do contexto e aí já viu, né?”, relata Marcelo, que conversou com o ator depois: “Ele nem sabia desse bafafá, mas ficou tudo bem. O Caruso é um lorde”.

Professor, Marcelo já não dá mais aulas há alguns anos. Também não trabalha mais em presídios, onde também lecionava em Bangu 5. Suzy é hoje a principal fonte de sustento dele. Pai de dois filhos já adultos, um de 23 e outro de 18, ele conta que enfrentou algumas barreiras para levar a personagem à frente. “Meus filhos acabaram descobrindo num programa de TV que eu era transformista. Ficaram meio chocados ali na hora, mas depois aceitaram porque eu nunca fui de esconder nada de ninguém. Minha família sempre soube que sou gay, tenho namorado há anos e não posso dizer que sofri grandes preconceitos justamente porque trabalho travestido. As pessoas encaram como a personagem ali”, diz.

A veia cômica fez com que Marcelo trilhasse um caminho nunca planejado. Suzy nasceu de uma brincadeira, um improviso (sua marca até hoje) que foram se tornando algo sério. Atualmente, ele também é roteirista de humor do Multishow e é com isso que vem contando para pagar as contas: “Porque esse negócio de live cansa e não dá dinheiro, não. Me mandam muita bebida e comida. É muita coxinha, lanche, bebida forte… Um dinheirinho aparece. Mas é aquele que só dá para pagar a cerveja barata do fim de semana. Aí, faço uns recebidos no meu perfil. Virei a rainha do delivery”.

foto: Instagram

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