A prefeitura deve anunciar nos próximos dias que o “Festival da Virada Salvador”, um dos mais importantes produtos do turismo baiano no verão será online. O carnaval de Salvador deve passar de Fevereiro para julho se houver vacina. Esse é o cenário que os hotéis da capital baiana estão enfrentando devido a pandemia do coronavirus. Com queda na procura pela capital baiana como destino no fim de ano, a expectativa do setor hoteleiro passa longe da ocupação máxima.
O Festival da Virada, que em 2019 atraiu cerca de 500 mil turistas e injetou aproximadamente R$ 400 milhões na economia da cidade, este ano será online e não na Arena Daniela Mercury, na orla da Boca do Rio. A consequência do cancelamento é uma previsão de queda na procura por hotéis na cidade, principalmente nas opções localizadas perto da área do evento.
É o caso, por exemplo, do Real Classic Bahia Hotel, em frente ao Jardim dos Namorados, na Pituba. Segundo o gerente geral Luís Derieul, o hotel chegava perto da ocupação máxima durante os dias de realização do festival, o que deve mudar. “A taxa de ocupação nos dias principais da virada é maior que 90%. O hotel atrai tanto pessoas de fora como pessoas daqui de Salvador que querem passar o ano novo mais perto e não enfrentar um deslocamento muito grande no retorno. A nossa estimativa conservadora é que, após a pandemia e consequentemente uma aflição dos clientes, a taxa chegue a 60% durante os últimos dias do ano”, afirma Luís.
De acordo com o gerente, a situação poderia ser ainda pior. “Como a orla está bem organizada e pelo combate sério dos órgãos públicos ao coronavírus, a gente já vê que as pessoas estão voltando a se hospedar. O setor corporativo, que é importante demais, já voltou, por exemplo”. No Salvador Mar Hotel, localizado em Armação, a gerente Lígia Uchôa é mais pessimista. “Sem o festival, a procura cai muito. Recebemos muitas pessoas interessadas na festa. Nessa época, a taxa de ocupação chega a 100%. Hoje, posso te dizer que ainda não temos nenhuma reserva para o fim de ano, coisa que é incomum porque a essa altura já estaríamos sem vagas e indicaríamos outros hotéis para os turistas. Com muito otimismo, acho que a taxa de ocupação deve ficar entre 50% e 60%”, diz.
Para driblar o prejuízo iminente ou pelo menos reduzi-lo o máximo possível, os hotéis buscam alternativas para convencer os clientes de que Salvador é um destino agradável no Réveillon mesmo com a ausência do maior festival da virada do país. A estratégia passa por tentar seduzir quem está indeciso. Diretora de relações institucionais da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis – Bahia (Abih-Ba), Renata Proserpio prefere não lamentar a ausência da festa e diz que o setor precisa explorar os outros atrativos da cidade para minimizar o impacto. “O festival sempre foi muito importante para o hotel, mas não adianta querer voltar ao passado. A situação mudou e temos que buscar nossas vantagens para a nova realidade. Salvador tem diferenciais para quem procura natureza, segurança, calma, conforto, história e praias. Vamos mostrar isso”, afirma.
Em tempo de crise, o Marano Hotel pretende investir naquilo que há de mais atrativo quando se fala em conquistar a clientela: promoção. De acordo com a gerente de vendas Paula Viana, a diária pode ser reduzida em mais de 50%. “Se a procura é menor, diminuímos a tarifa. Essa é a nossa solução para trazer mais pessoas no fim de ano. Antes, a diária de um quarto para duas pessoas era de R$ 380. Neste ano, esse preço deve cair pela metade e pode descer ainda mais, dependendo do cenário que vamos encontrar”, conta.
Para Luís Derieul, gerente do Real Classic Bahia, a incerteza quanto à retomada da normalidade no fluxo de voos direciona o foco para o turista que mora próximo da capital baiana e vem de carro. Segundo ele, este é um público que o hotel pretende explorar. “A queda da taxa de ocupação vai acontecer, não tem jeito. Mas, no momento, tenho me atentado ao turismo regional. Pessoas que vêm de Aracaju e regiões próximas a nossa cidade, que podem sim atenuar o efeito que a ausência do festival vai nos causar. Aposto nisso porque estou em constante contato com empresas de fora do país que costumam ter muitos voos e não há certeza sobre o que deve acontecer”, explica.
Já o Salvador Mar Hotel pretende explorar outro caminho. A intenção da direção é basear a propaganda no turismo cultural e religioso. “Vamos tentar conquistar quem viria para Salvador não por causa das festas de fim de ano, e sim do aspecto cultural e religioso que a cidade tem. Essa é uma característica muito atrativa para grupos turísticos que já estamos em contato e pretendemos firmar parcerias para que consigamos atingir uma taxa de ocupação considerável e evitar um prejuízo maior”, declara Lígia Uchôa.
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