Hoje Salvador completa 4 meses de quarentena. Esta coluna se posicionou desde o primeiro momento a favor do isolamento social e os resultados alcançados demonstram que esse foi o caminho certo. Muitas vidas foram perdidas e elas são insubstituíveis, mas de posse dos indicadores é possível dizer que Salvador atingiu o pico da pandemia e que a curva de casos e de mortes está em descenso. O pico de mortes ocorreu em 24 de junho, quando morreram 42 pessoas na cidade, mas, felizmente, desde então esse número vem caindo e atingiu um platô e estabilizou-se há sete dias consecutivos em 12 mortes por dia. É um dado terrível e significa que 12 vidas estão se perdendo diariamente, mas é um número 71% menor do que no dia 24 de junho, está estabilizado e tende a cair nos próximos dias.
O número de novos casos de Covid-19 na cidade, que já atingiu mais de 1500 por dia, caiu a menos da metade nos últimos sete dias e a taxa média de crescimento nos últimos 5 dias é de 0,8% umas das mais baixas do estado. Por outro lado, a taxa de ocupação das UTIs está em cerca de 78% e abaixo de 70% para residentes. Esses dados foram coletados nas secretarias de saúde do estado e do munícipio e não permitem dizer que vencemos a pandemia ou que esta na hora de acabar com o isolamento social, mas permitem afirmar que Salvador está pronta para dar o start da fase1 da reabertura da economia, desde que obedecendo a todas as restrições estabelecidas nos protocolos definidos pelo Estado e pela Prefeitura.
A fase 1 pode ter início imediatamente, não só para que a população possa se acostumar ao “novo normal”, mas também para que a cidade não fique dividida em duas: aquela que se mantém em quarentena e a outra, dos bairros da periferia onde lojas e serviços estão funcionando, e das grandes lojas de supermercados e material de construção, pontos de enorme aglomeração, onde não se vende apenas artigos essenciais, mas, alimentos, móveis e eletrodomésticos, etc. É verdade que a decisão de retomar as atividades é difícil para qualquer gestor e o Prefeito ACM Neto preocupa-se em não repetir o abre e fecha verificado em outros locais.
É louvável a preocupação do prefeito, mas Salvador está em patamar bem diferente das cidades negacionistas e daquelas que reabriram a economia antes do pico de casos e assemelha-se a cidades como Recife, Fortaleza, Rio de Janeiro e São Paulo que de há muito estão com suas atividades restabelecidas. Esta coluna mantém-se coerente: o isolamento social é o remédio mais eficaz para combater o coronavírus e sua aplicação deu resultado, mas já passou da hora de dar início a fase 1 da flexibilização, afinal Salvador já ganhou o título de cidade com a mais longa quarentena do Brasil.
A COVID NA BAHIA
O epicentro da Covid-19 deslocou-se de Salvador para o interior da Bahia. Os modelos já apontavam para isso, mostrando que o vírus atinge primeiro as regiões de maior densidade demográfica e maior rede de mobilidade e depois se espalha. Está sendo assim nos EUA, onde Nova York controlou a pandemia, mas ela está explodindo em outros estados. E na cidade de São Paulo, que já liberou as atividades, mas o Estado registra picos da doença. Na Bahia, os municípios com os maiores coeficientes de incidência da Covid-19 por 100 mil habitantes estão no interior e, enquanto Salvador registrou uma taxa média de crescimento dos casos nos últimos 5 dias de 0,8%, no interior há municípios com taxas até 100 vezes maiores.
O CARNAVAL DA PANDEMIA
O carnaval é fundamental para a economia de Salvador e é natural a preocupação com sua viabilidade e seu possível adiamento. Há até quem questione se haverá clima para festa, frente as mortes causadas pela pandemia. Nesses casos, é bom ter calma. Entre outubro e novembro de 1918, morreram no Rio de Janeiro 15 mil pessoas, por causa da gripe espanhola e a cidade virou um imenso hospital. Ninguém queria falar em carnaval! Mas os casos se reduziram a quase zero em dezembro e em 1º de março de 2019, o Rio viveu o maior carnaval de todos os tempos, apesar da devastação provocada pela pandemia. Se foi uma proclamação à vida é assunto para outro artigo, mas quanto ao carnaval de 2021, ainda é cedo.