Apesar das projeções sombrias para a economia brasileira por conta da pandemia, o nosso agronegócio segue sua trajetória de expansão, tendo crescido 3,78% no primeiro quadrimestre deste ano , em relação ao mesmo período do ano passado, segundo dados do CEPEA e da CNA. O avanço foi impulsionado sobretudo pelos segmentos “dentro da porteira”: a agricultura cresceu 1,72% e a pecuária avançou 8,01%, Ressalte-se ainda que todos os demais segmentos mostraram expansão no período referido, O segmento serviços cresceu 3,98% e os setores de insumos e o agroindustrial registraram incrementos de 0,97% e 0,44%, respectivamente, Este último dá sinais de reação, segundo a FGV Agro.
A despeito deste fato auspicioso, o agro brasileiro pode ser prejudicado pela nossa questionada política ambiental, principalmente em decorrência dos elevados índices de desmatamento observados na Amazônia,
Em artigo recente , o economista José Roberto Mendonça de Barros fez alusão a uma carta distribuída pelo fundador do Forum Econômico Mundial no decorrer da reunião no início do ano, em Davos, na qual se sustenta que o atual modelo econômico não é mais sustentável e que terá que mudar para incorporar , dentre outras coisas, tolerância zero com a corrupção , respeito aos direitos humanos e proteção ao meio ambiente.O renomado economista afirma ainda que dezenas de grandes gestores de fundos de investimentos, que administram mais de 4 trilhões de dólares, enviaram recentemente carta às embaixadas brasileiras, alertando que desenvolvimento econômico e meio ambiente não são mutuamente excludentes, e instando o governo brasileiro a demonstrar um claro compromisso com a eliminação do desmatamento e com a proteção dos direitos dos povos indígenas. Os fundos, na carta, pediam uma reunião com um representante oficial do governo do Brasil. Esses investidores ameaçam, no limite, desinvestir no nosso país e, no plano de algumas empresas estrangeiras, cogita-se inclusive a hipótese de proibir ou restringir importações oriundas do Brasil, especialmente de produtos do agronegócio,
A pretendida reunião ocorreu com o vice-presidente Hamilton Mourão no último dia 9, e, aparentemente , teve poucos resultados práticos, em termos de metas estipuladas de redução dos desmatamentos. Segundo alguns relatos, Mourão teria se limitado a defender o Ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente, de críticas consideradas injustas e a argumentar que parte desses atitudes de investidores decorre do fato de que alguns parceiros comerciais temem a concorrência do agronegócio brasileiro, considerado muito competitivo. Nos bastidores, Mourão, presidente do Conselho da Amazônia , tem admitido estudar a fixação de metas semestrais de redução do desmatamento e fortalecer a estrutura de fiscalização do Ministério do Meio Ambiente, ponto este frequentemente atacado pelos críticos da política ambiental.
É preciso reconhecer que as posturas do governo e do ministro Salles, em particular , têm sinalizado pouca preocupação com as questões ambientais. Só para exemplificar, no ano passado, o ministro Ricardo Salles explicitou discordância com os critérios de aplicação dos recursos do bilionário Fundo Amazônia, destinado a financiar ações de proteção do Bioma Amazônico. Os governos patrocinadores dos recursos a fundo perdido, da Alemanha e da Noruega, retiraram os volumosos aportes e o Brasil perdeu uma fonte valiosa de recursos para a nossa política ambiental.
Mais recentemente, na polêmica reunião de 22 de abril deste ano, o ministro Salles falou em deixar “passar a boiada ” e afrouxar as normas ambientais. Essas e outras sequências de atitudes equivocadas têm repercutido lá fora, alimentando uma imagem ruim do Brasil no exterior, de descaso com as questões ambientais e climáticas.
Nesse contexto, aí incluindo-se algumas declarações infelizes de autoridades a respeito da China, nosso maior parceiro comercial, torna-se imperioso que o governo federal defina e implemente ações efetivas de política ambiental, estabelecendo metas concretas no tocante aos desmatamentos, e proclame enfaticamente seus compromissos nas áreas ambiental e climática, sob pena, dentre outras coisas, de comprometer seriamente os esforços empreendidos pela ministra Tereza Cristina, no sentido de conquista e diversificação de mercados para o nosso agronegócio.