Escolas particulares em ao menos 7 capitais estimam reabrir as salas aos alunos: em 4, a volta é esperada para julho; em outras 3, em agosto. Em todo o estado de São Paulo, o retorno será em setembro, por decisão do governo estadual. Os dados são da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep), apurados até a manhã desta quinta-feira (25) a pedido do G1. A Bahia não faz parte dessa lista. Desde março, as aulas presenciais estão suspensas em todo o Brasil para conter a pandemia do coronavírus.
Quatro meses após o fechamento das escolas, o planejamento e a expectativa para o retorno às salas de aula variam em cada local – e mudam rápido, conforme a notificação de casos de Covid-19 em cada região. Em Manaus, João Pessoa, Brasília e Fortaleza, as escolas da rede privada planejam a reabertura em julho, segundo a Fenep – as previsões seguem o calendário das prefeituras, informa a federação. Já as escolas particulares em Goiânia, Curitiba, e São Luís avaliam a volta às escolas em agosto, também de acordo com o balanço da entidade.
No Rio de Janeiro, a previsão era de retorno em julho, segundo a Fenep, mas a mudança em diretrizes anunciadas nesta quarta (24) e a falta de protocolo para a rede pública deixou as escolas particulares em suspenso. A federação afirma que cobrará uma definição do poder público de estados e municípios sobre o que é necessário para reabrir as salas. Assim, espera cumprir as diretrizes e reabrir, independentemente da rede pública estar ou não pronta para isso.
Em SP, por exemplo, onde o governo de São Paulo anunciou a reabertura das escolas públicas e particulares juntas, em setembro, o secretário da Educação, Rossieli Soares, afirmou que a medida garantirá acesso igualitário ao ensino, sem privar alunos da rede pública do acesso à educação enquanto a rede particular voltaria aos estudos. Na rede estadual, a volta é incerta. Mesmo SP, que prevê retorno em setembro, atrelou a volta à redução no número de casos. No Maranhão, há previsão de retorno em agosto. No Tocantins, a previsão de volta em agosto é para estudantes do ensino médio.
Em todos os modelos, o ensino híbrido – que mescla aulas presenciais e remotas – está presente. A volta será escalonada, em grupos pequenos de alunos e turmas menores. A previsão é ter parte dos alunos em sala de aula, e outra parte em casa. Algumas escolas particulares pretendem fazer a transmissão ao vivo da aula presencial, pela internet. Há previsão de incentivo à higiene das mãos, uso de máscaras obrigatório, distanciamento social, e horários diferentes para a entrada e os intervalos, evitando a aglomeração dos estudantes. Para crianças menores, há escolas particulares prevendo kits individuais de brinquedos educativos.
Pressão: As escolas particulares pressionam para a volta, sem estar atrelada à rede pública. A Fenep afirma ter protocolo de segurança para evitar a transmissão de coronavírus nas escolas, elaborado há 45 dias. “Deveria ter voltado antes, até para a gente aprender como é isso, porque o vírus não vai embora. Na nossa opinião, é um erro estratégico”, afirma Ademar Batista Pereira, presidente da Fenep.
Em SP, o Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo (SIEE-SP) é contra a determinação do governador, João Doria, de reabrir as escolas só em setembro – eles esperavam o retorno um mês antes, em agosto. O presidente do sindicato falou em “incompetência do estado” e defendeu que as particulares já estão prontas para o retorno. “Não esperávamos que ela voltasse em junho ou julho, mas, no mínimo, em agosto”, disse Benjamin Ribeiro da Silva, presidente do SIEE-SP. “Foi à revelia, goela abaixo. Não concordamos. A escola particular hoje atende 24% dos alunos do ensino médio do estado de São Paulo e não temos culpa da incompetência do estado e da prefeitura se eles não conseguem se capacitar a tempo. Nós já temos certificação científica, protocolo médico, as escolas estão preparadas… Agora, se a rede pública não consegue se capacitar, nós não temos culpa. Não concordamos e vamos protestar”, afirmou.
O professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) e membro da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, discorda. “As crianças estão perdendo demais sem ir às escolas, mas não estão colocando em risco as suas vidas e de familiares, é uma discussão que não cabe. As crianças estão perdendo, mas dá para fazer mais e melhor, sempre com a saúde na frente”, defende. O infectologista da Fiocruz Julio Croda afirma que a tomada de decisão precisa considerar aspectos locais da pandemia. “É muito complicado, depende muito da cidade. Apenas em cada região é possível programar alguma coisa. Depende da curva epidemiológica, que precisa estar em queda, e do número de leitos de UTI”, afirma.
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