Pelo menos metade da população brasileira vive em cidades que já registraram casos confirmados de coronavírus. O total de municípios com infecções reportadas cresceu dez vezes nos últimos 15 dias e já chega a 362. Embora esse número represente apenas 6,5% do total de cidades do País, o surto atinge parcela expressiva da população por estar concentrado nas áreas mais populosas do Brasil.
Os dados são resultado de levantamento feito pelo Estado com base em estatísticas compiladas pela plataforma colaborativa Brasil.io, que considera boletins divulgados diariamente pelas 27 Secretarias Estaduais da Saúde. As informações por município não são divulgadas pelo Ministério da Saúde, apenas pelos governos estaduais.
A análise, que considera os dados registrados desde o dia 26 de fevereiro, quando o primeiro caso da doença foi confirmado no Brasil, até a última segunda-feira, dia 30, mostra que, em meados de março, apenas 32 cidades brasileiras tinham casos confirmados da covid-19. Os municípios afetados na ocasião somam uma população de 43,1 milhões.
No dia 30, apenas 15 dias depois, o número de municípios atingidos passou para 362 e o contingente populacional afetado saltou para 106 milhões, alta de 146%. Apenas naquele dia, 35 novas cidades passaram a registrar a doença em seu território, o maior número desde o início do surto no Brasil.
São Paulo e Rio Grande do Sul são os Estados com o maior número de cidades afetadas: 49 cada um. Santa Catarina e Paraná aparecem em seguida no ranking, com 39 e 33 municípios atingidos, respectivamente. O Rio de Janeiro, embora seja a unidade da Federação com o segundo maior número de casos confirmados (708), tem apenas 24 cidades com registro da doença. O Rio perde em número de casos apenas para São Paulo, que já registra 2.339 infecções confirmadas.
O levantamento mostra ainda que todas as capitais brasileiras já registraram casos de infecção pelo novo coronavírus. Outras cidades populosas também foram atingidas pelo vírus. Dos 362 municípios com registros da covid-19 até agora, 48 têm população superior a 500 mil habitantes. Estão nesse grupo cidades como Guarulhos e Campinas, em São Paulo; Nova Iguaçu e Duque de Caxias, no Rio; Uberlândia, em Minas; Feira de Santana, na Bahia, entre outras.
Embora a maioria das cidades com casos confirmados da doença seja de porte médio (100 mil a 500 mil habitantes) ou grande (acima de 500 mil), já há 175 municípios com população inferior a 100 mil habitantes com registros. O menor deles é Rancho Queimado, em Santa Catarina, que tem apenas 2.878 moradores, segundo dados de 2019 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Para Eliseu Alves Waldman, professor de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), embora o foco das atenções esteja nas grandes cidades, que reúnem a maioria dos casos, as cidades pequenas podem ser pegas de surpresa. “É preocupante esse avanço rápido e para cidades pequenas porque quanto mais disseminada a doença estiver no País maior a probabilidade de atingir centros menos preparados, sem facilidade de acesso a leitos de UTI ou sem as condições ideais de biossegurança nos hospitais”, comenta o especialista.
Waldman diz que a biossegurança nos hospitais é fundamental para que pacientes internados com outros problemas não sejam infectados dentro do ambiente hospitalar, além de proteger profissionais de saúde de uma possível contaminação. Ele estima que, embora o crescimento do número de cidades atingidas seja rápido e expressivo, o número de localidades com casos confirmados seja ainda maior dado que, pela falta de testes, há subnotificação no País. “Temos muitos deslocamentos entre cidades pequenas e médias, então é provável que haja mais municípios atingidos, mas que ainda não entraram nas estatísticas pela falta de testes”, destaca.
Foto: divulgação