Para combater o avanço do novo coronavírus, o governo federal avalia que a “melhor solução” hoje é utilizar navios para isolar e tratar pessoas de baixa renda infectadas pela doença. A ideia das autoridades brasileiras é atender nas embarcações casos leves, que não exigem leitos de UTI, de pessoas que moram em regiões litorâneas. Em outros locais, afastados do mar, está sendo estudado desde o uso de quarto de hotéis, até unidades habitacionais ainda não entregues para socorrer a população.
Segundo o último Censo do IBGE, em 2010, 10 milhões de brasileiros viviam em assentamentos, favelas e invasões. O governo já identificou com empresas de cruzeiros que há aproximadamente 20 navios disponíveis. “Temos de tratar da alimentação dessas pessoas, do monitoramento, da terapia, medicamentos que serão disponibilizados. E caso os pacientes tenham agravamento, teremos condições para que possam ser rapidamente atendidos, mesmo dentro do navio”, disse o secretário executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo.
Outra preocupação, segundo ele, é com o “tratamento dos resíduos que vão ocorrer dessas pessoas (no navio) que potencialmente estarão com a presença do vírus”. O Ministério da Saúde considera promissora a aplicação da ideia no Rio, o segundo Estado com o maior número de infectados. Cerca de 1,5 milhão de pessoas vivem no Rio espalhadas em mais de 700 comunidades. Em São Paulo, a população das favelas era de 1,2 milhão de pessoas. O governo espera que navios sejam cedidos sem custos.
O jornal O Estado de S. Paulo apurou que a preocupação com as pessoas de baixa renda, especialmente do Rio, foi discutida anteontem em reunião reservada do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, com integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF). Um dos pontos levantados é que elas não possuem sequer saneamento básico e, muitas vezes, compartilham com parentes casas com apenas um ou dois cômodos.
“Tem várias alternativas. Mas confesso que nenhuma das que estávamos vendo é melhor do que essa, de usar navios no Rio”, disse Gabbardo. “É uma preocupação. Como colocar em isolamento o cidadão que mora em comunidades no Rio, com a quantidade enorme de pessoas na mesma residência, que muitas vezes tem só um ou dois quartos”, disse. O protocolo da Saúde prevê ao menos 14 dias de afastamento.
A iniciativa com os barcos já foi adotada na Itália, um dos países mais afetados no mundo pela pandemia. Os italianos transformaram um navio em hospital para atender cerca de mil pessoas. Segundo a CLIA Brasil (Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos), a proposta de ceder cruzeiros foi apresentada em uma reunião com o Ministério da Saúde.
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