Todos os dias do ano, a casa de Guarajuba da família Passos fica com a geladeira e o freezer ligados. Quando a residência é alugada, os inquilinos ligam os ar-condicionados, a bomba da piscina e as televisões. Tudo isso reflete na conta de luz, que salta de cerca de R$ 500 em um mês normal para R$ 1.300 mensais no Verão, quando a casa tem uma taxa de ocupação de mais de 90%.
Com os turistas, o consumo de energia aumenta no Verão, mas não apenas na residência. A localidade de Guarajuba registra um aumento de 60% na utilização de energia no período. Junto com a praia da Linha Verde, Arembepe, Praia do Forte, Porto Sauípe, Conde, Matarandiba (Vera Cruz), Beribeira e Barra Grande (Ilha de Itaparica) têm a mesma taxa de crescimento no consumo elétrico a partir de dezembro. Ao todo, 21 localidades do litoral baiano têm aumento de mais 40% no consumo de energia na estação.
Segundo a Coelba, a explicação está na ocupação das casas de veraneio e o fato de as residências de moradores ainda receberem hóspedes. Com isso, a população habitual desses lugares chega a dobrar no período e, consequentemente, o consumo de energia sobe também. O dia 31 de dezembro é o que tem o maior consumo de energia elétrica no estado, segundo o gerente de desenvolvimento da Coelba, Pedro Jerônimo. “Está relacionado ao comportamento das pessoas. Basicamente, fazem o mesmo ritual: tomam banho às 19h, por exemplo, passam o dia nos salões de beleza e as festas acontecem no mesmo horário”, declarou.
No Salão Priscila Campos, em Arembepe, a clientela dobra do Natal para o Réveillon. Dona do estabelecimento, Priscila comentou que os turistas que passam a virada na localidade querem se arrumar para o começo do novo ano. A maior procura é por escova de cabelo, pedicure, manicure e design de sobrancelha. “Para amanhã, a agenda tá cheia, as vezes nem dá para atender todo mundo porque tem os fixos da casa e ainda tem os turistas”, contou. Com os secadores ligados por mais tempo e os ventiladores em uso para refrescar, a conta de luz fica mais salgada. Nesse período, a equipe busca economizar ainda mais energia.
“Quanto mais for o trabalho, tem mais gasto de energia. Aumenta um pouco, mas o preço não muda muito. A gente desliga os ventiladores quando não tem cliente. O secador que tem que usar mesmo, mas coisas como aparelhos de depilação, se não tem cliente, desliga”, disse. Em Conde, que tem um aumento de 60% no consumo de luz, as pousadas enchem para o final de ano. A dona de uma pousada na praia que pediu para não ser identificada relatou que os 11 quartos da hospedaria estão lotados para o reveillon. O aumento no número de hóspedes impactou a conta de luz.
“O maior impacto na conta é o ar condicionado, que fica ligado direto porque temos muitos hóspedes. Tem gente que desliga o ar e a lâmpada, mas tem hóspede que deixa tudo ligado”, disse. No estabelecimento, a conta de luz passou de uma média de R$ 500 para R$ 1.300 em novembro, quando o movimento já estava grande. Com a lotação, a dona espera que o boleto venha ainda mais caro em dezembro.
De acordo com ela, é até mais fácil pagar a conta de luz na baixa estação, entre março e agosto, quando apenas dois quartos são alugados por semana, em média. Neste final de ano, a vila de Praia do Forte está lotada, conta a Presidente da Associação de Moradores da localidade, Mariúcha Ferreira. “Quem mora aqui percebe que nesse período de final de ano tem um movimento maior. No dia 27 percebemos que o movimento começou a aumentar bastante e isso vai até o final do carnaval”, disse.
Na pousada Refúgio da Vila, que fica em Praia do Forte, o número de hóspedes dobrou para o réveillon em comparação com a baixa estação – que ocorre após o carnaval até antes do São João e entre os festejos juninos e o Verão. Sócia do estabelecimento, Isabela Lamenha, indicou que a maior parte das reservas da alta estação, o Verão, são feitas para a virada do ano. “Praia do Forte tem uma aumento significativo de hóspedes no verão como um todo. Especificamente, nos dez dias entre do final de dezembro e início do próximo ano”, comentou.
Com o aumento do número de hóspedes, que ligam os ar-condicionados, usam o chuveiro elétrico e assistem TV, a conta de luz sobe. Para economizar, a pousada trocou as lâmpadas por modelos de LED e conscientiza os funcionários sobre o uso de energia. Além das localidades em que o aumento foi de 60%, em outras cinco localidades, o aumento registrado é de 50%: Prado, Alcobaça, Trancoso, Porto Seguro e Coroa Vermelha. Há ainda outros oito lugares em que o aumento fica entre 40% e 45%.
Para dar conta do aumento da demanda, a Coelba informou que implantará uma série de medidas. Entre elas, a adoção de um plano de ações que consiste em ações de manutenção preventiva e investimentos nas redes, contemplando 12 municípios de regiões litorâneas e da Chapada Diamantina, onde há acréscimo de fluxo época do Verão.
“A gente tem ações de inspeção e manutenção preventiva das redes elétricas, programa de investimento que também abarca essas localidades e monitoramento em mais de 50 praias. Além disso, tem todo o planejamento de logística de equipes e as frotas de caminhões posicionados para, em caso de ocorrências de quedas,haver o processo de reestabelecimento da energia”, declarou o gerente de desenvolvimento da Coelba, Pedro Jerônimo.
Praia do Forte é um dos lugares onde o aumento no consumo no Verão chega a 60%. Presidente da Associação Comercial e Turística de Praia do Forte, Vitor Hugo Knack, diz que já houve situações em que em datas importantes houve falta de energia na localidade e os empreendedores sentiram o caos que isso representa para o turismo. “No feriadão da Independência do ano passado, por exemplo, com pousadas e hotéis lotados, houve um problema numa subestação que provocou uma falta de energia de Guarajuba até Imbassaí. Começou 21h e normalizou às 4h do dia seguinte.
Nem todo mundo tem gerador, é um equipamento caro e é inviável para os pequenos negócios. Ficar sem energias 10, 15 minutos, até uma hora, até vai, mas, mais do que isso, é inadmissível para o turismo”, declarou Knack, se referindo ao dia 8 de setembro de 2018, quando uma falha em sistema deixa praias do Litoral Norte sem energia elétrica. A Coelba não informou a quantidade de quedas de energia registrada no Verão. Porém, o gerente de desenvolvimento da concessionária, Pedro Jerônimo, disse que nem sempre é possível relacionar de forma direta a falta de energia com o aumento do consumo.
“É claro que, em momentos festivos, o fator que influencia, mas existe o aumento de demanda não declarada, por exemplo, o fato de um hotel informar a Coelba que o seu consumo será de 10 ar condicionados no Verão e, na verdade, o estabelecimento operar com 20 ar condicionados”, explicou. O gerente de planejamento e projeto da Coelba, José Carlos Porpino, explicou que a concessionária se prepara por meses para o pico sazonal no consumo de energia. Além dos festejos do fim de ano, o gerente aponta feriados prolongados e o carnaval como períodos de grande utilização de eletricidade. “No Litoral Norte temos, desde 2012, um planejamento que ampliou as subestações da região. O plano é passar 10 anos com a carga sendo atendida. Ainda vai ser inaugurada uma nova subestação em Abrantes”, disse.
De acordo com Porpino, as subestações das regiões de veranicos funcionam com 40% a 50% de carregamento na baixa estação para ser capaz de atender uma demanda maior nos períodos de pico. A Coelba ainda se analisa o funcionamento da rede para melhorar o atendimento para épocas de grande uso. “O que acontece com muita frequência é de colisões com postes. Muitas das quedas de energia nas regiões de veraneio são por fator externo. Entre dezembro, janeiro e fevereiro têm maior incidência de colisão em poste pelas festas e o número de pessoas que dirigem bêbados”, afirmou.
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