Em 2015, a Mocidade Independente de Padre Miguel contratou o carnavalesco-sensação daquela época e fez um imenso barulho no mercado. A escola pagou R$ 1,5 milhão a Paulo Barros, um valor surreal que não existe mais no mercado das escolas de samba por um simples motivo: o governo municipal do Rio cortou toda e qualquer ajuda às escolas por considerar o evento um produto que dá muito lucro à TV Globo. E como o prefeito do Rio, o pastor Marcello Crivella, é ligado à Record TV, ele alega que patrocinar escolas que desfilam no Sambódromo é dar dinheiro, indiretamente, à TV Globo. Até que faz sentido.
Hoje, Barros, aquele que já ganhou R$ 1,5 milhão, está na Unidos da Tijuca por um valor infinitamente menor, algo simbólico. Na verdade, ele está lá por uma questão estratégica de se manter no Carnaval do Rio, depois de brigar, no início do ano, com a Viradouro.
Vamos, agora, a um exemplo mais “pé-no-chão”, o grandioso Alexandre Louzada. Os números de Louzada mostram, ano a ano, a medida que Crivella ia deixando mais claro sua insatisfação com o Carnaval da Sapucaí, como o salário dele foi caindo. Em 2017, na Mocidade, ele ganhava R$ 40 mil por mês. Em 2018, na mesma escola, ele baixou o valor em R$ 10 mil por mês, mas, no meio do contrato, com os salários atrasados, ele reduziu para R$ 22 mil. No fim de 2018, Louzada saiu sem receber todo o valor e foi para a poderosa Beija-Flor. Na escola de Nilópolis, o carnavalesco ganha R$ 150 mil por ano, o que dá R$ 12,5 mil por mês, metade do que recebia na saída da Mocidade. Entendeu? Louzada percebeu que a nova realidade é essa. Atualmente, a mesma Mocidade paga R$ 25 mil por mês a Jack Vasconcellos. A escola também entendeu que não dá para prometer um valor fora da atual realidade.
Aliás, um dos segredos da Beija-Flor é esse. A escola é uma das poucas a nunca atrasar salários. O motivo é simples: como ser da Beija-Flor é uma grife, ela usa isso a seu favor e paga salários mais baixos. Mas jamais deixa de pagar em dia. Além disso, tem Anísio Abraão David por trás, né? Qualquer problema que surja no meio do caminho, o papai – como ele é conhecido – está lá para ajudar a resolver.
Na Grande Rio, outra escola considerada rica – e que paga em dia -, os salários pagos a carnavalescos no passado, simplesmente, não existem mais, são algo praticamente folclórico. Renato Lage ficou dois anos na escola e saiu após o Carnaval de 2019. Foram R$ 80 mil por mês, que dá quase R$ 1 milhão por ano. Renato saiu de lá sabendo que nunca mais ganharia nada parecido na vida. Hoje, a mesma Grande Rio paga à dupla Gabriel Haddad e Leonardo Bora R$ 20 mil por mês. E está ótimo! A nova realidade do Carnaval do Rio é essa. Quem não quiser, vá para São Paulo, como fez Paulo Barros. Lá sim, ainda tem dinheiro de sobra.
*Foto: Reprodução – Instagram