O novo chefão da Alphabet, terceira empresa mais valiosa do planeta, é um indiano apaixonado pela Seleção Brasileira. “Sou um grande fã de futebol. Me lembro de, na juventude, levar minha mãe à loucura. Eu acordava no meio da noite para assistir o Brasil na Copa do Mundo”, diz. Pichai Sundararajan nasceu em 1974 na Índia, filho de uma estenógrafa e um engenheiro eletricista — ganharia ainda um irmão. Na cidade de Chennai, os quatro dividiam uma casa de dois cômodos.
Durante a infância não teve televisão, cama e, por algum tempo, nem geladeira. Aos 12 anos, uma linha telefônica residencial finalmente chegou. Assim, contou ao jornal The Guardian, passou a telefonar para o hospital para saber se os exames médicos da mãe estavam prontos — em vez de esperar uma hora, numa fila, para descobrir que teria de voltar outro dia. A infância dura deixou marcas. “Quando eu era pequeno, enfrentamos um período de seca. Ainda hoje, não consigo dormir sem uma garrafa de água ao lado da minha cama”, contou em 2008 ao jornal The New York Times. “Mas eu tinha bastante tempo para ler. Lia qualquer coisa que caísse em minhas mãos. Estava processando muito”.
Sonhava em ser jogador de críquete mas, felizmente, fracassou. Formado engenheiro metalúrgico pelo Indian Institute of Technology Madras (melhor faculdade de Engenharia da Índia), recebeu de seu orientador uma carta de recomendação para uma bolsa de mestrado em engenharia e ciência de materiais na Universidade Stanford. Foi aceito pelos avaliadores mas, segundo uma antiga reportagem do jornal local India Today, não tinha dinheiro para viajar para os Estados Unidos. Raspou as economias da família, entrou pela primeira vez em um avião e simplificou seu nome para se encaixar na cultura americana: Pichai Sundararajan tornou-se Sundar Pichai.
Ao entrar no mestrado em Stanford em 1993, Pichai foi contemporâneo de Larry Page e Sergey Brin — estudantes de ciência da computação que, em 1998, acabariam por fundar o site de buscas Google. Levaria algum tempo, contudo, para os três trabalharem juntos. Antes disso acontecer, Pichai trabalhou na empresa de semicondutores Applied Materials e na consultoria McKinsey. Pichai entrou no Google em 2004 como gerente de desenvolvimento do Toolbar, uma pequena barra de ferramentas que permitiu à marca ir além de seu consagrado motor de busca.
Quando a empresa avançou com softwares e serviços em nuvem, como Chrome e Drive, o engenheiro avançou junto — e foi acumulando a gestão de mais e mais soluções, cada vez mais estratégicas. De gerente chegou a diretor e, depois, vice-presidente. Quando em 2015 a empresa tornou-se o grupo Alphabet, Pichai virou CEO do Google. Em 2017, proclamou que a marca não seria mais “mobile first, mas artificial intelligence first”. Ao cuidar das principais fontes de receita do grupo, Pichai tornou-se sucessor natural de Page e Brin. “Não há ninguém em quem tenhamos confiado mais desde a fundação da Alphabet, e ninguém melhor para liderar o Google e a Alphabet rumo ao futuro”, dizem os dois fundadores, na carta de despedida. “Sundar traz humildade e uma profunda paixão por tecnologia para nossos usuários, parceiros e funcionários, diariamente”.
Também na carta que anuncia a sucessão, Pichai afirma: “Estou empolgado com a Alphabet e seu foco de longo prazo em enfrentar grandes desafios com tecnologia”. Em entrevistas recentes, contudo, o indiano mostra um tom mais sóbrio do que o otimismo multicolorido que caracterizou o Google — e o Vale do Silício — nas últimas duas décadas. “Reconheço que, no Vale, as pessoas são obcecadas com o ritmo da mudança tecnológica. Como humanos, não sei se queremos mudanças tão rápidas — eu não acho”, disse ao Guardian. “Tecnologia não resolve os problemas da humanidade, é sempre ingênuo pensar que sim”, disse ao New York Times. “Acho que estamos superestimando o papel da tecnologia como solução para os problemas da mesma forma que, provavelmente, estamos superestimando a tecnologia como fonte de todos os problemas”.
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