O busto da yalorixá Gildásia dos Santos, a Mãe Gilda de Ogum, no Largo do Abaeté, em Itapuã, completou cinco anos de instalação nesta quinta-feira (28). Para comemorar seu aniversário, o terreiro Ilê Axé Abassá de Ogum, hoje comandado pela yalorixá Jaciara Ribeiro, filha biológica de Mãe Gilda, promoveu um ato ecumênico para debater formas de combate à intolerância religiosa em Salvador. Em 2016, o monumento e o terreiro foram alvos de intolerância religiosa – na ocasião, ambos foram vandalizados e depredados.
O evento, que tinha como tema ‘Heroínas de ontem e hoje’, homenageou grandes nomes das religiões de matriz africana, como Dandara, Luiza Mahin, Mãe Gilda, Mãe Stella de Oxóssi e Makota Valdina. Em seu discurso, Mãe Jaciara relembrou o ato de vandalismo contra o busto de sua mãe, pregou o respeito entre as religiões e classificou o ato ecumênico realizado como um dia histórico.
“O que fizeram não foi apenas vandalismo, foi falta de respeito. Um busto que representa não só Mãe Gilda, mas sim a todas as mulheres de candomblé do estado da Bahia. Todos os terreiros da Bahia foram, de alguma forma, violados”, disse Mãe Jaciara.
“Nós fazemos caminhadas, seminários, buscamos todos os mecanismos para tentar dar visibilidade e denunciar todo e qualquer caso de intolerância. Hoje, para mim, é um dia histórico, poder estar celebrando neste ato ecumênico, com todos os segmentos religiosos, as posições para o futuro, de como a gente pode coibir essa violência. É um ato de reparação, de amor e respeito, é um momento de luta e de resistência por um futuro melhor”, completou.
O evento contou com as presenças do padre Lázaro Muniz, da paróquia Santa Cruz do Engenho Velho da Federação, da pastora Sônia Mota, da Igreja Presbiteriana Unida do Garcia, que também é coordenadora da Coordenadoria Ecumênica de Serviço (Cese), a Suma Sacerdotisa Senhora Graça Azevedo, do Templo Casa Telucama de Bruxaria Tradicional, e a secretária de Promoção da Igualdade Racial do Estado (Sepromi), Fabya Reis.
De acordo com a pastora Sônia, é preciso acreditar no Deus do amor, que não permite olhar para o outro como um inimigo ou alguém que eu tenha que se combater. No entanto, é preciso falar mais sobre o racismo religioso do que intolerância religiosa.
“O reconhecimento da pluralidade é um princípio divino e a gente achar que todo mundo tem que pensar igual, que professar a mesma fé, adorar o mesmo Deus, é um desconhecimento desse Deus que é da diversidade e da pluralidade. É um desconhecimento também de todo princípio religioso, da espiritualidade que é o amor”, disse a pastora, que afirmou ainda se sentir privilegiada em participar desses espaços com forma de reafirmar sua fé.
*Foto: Reprodução- Marina Silva- Correio