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ERIK FIGUEIREDO: JAMES HECKMAN PARA PATRONO DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

Redação - 01/08/2019 11:58 - Atualizado 01/08/2019

A entrevista de James Heckman, Prêmio Nobel de economia, concedida a Folha de São Paulo no dia 29 de julho deveria ser emoldurada e pendurada nas paredes do ministério da educação e nas secretarias estaduais e municipais brasileiras (link aqui: https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2019/07/pre-distribuir-habilidades-e-melhor-jeito-de-reduzir-desigualdade-diz-nobel-de-economia.shtml). Todo gestor de política pública – se alfabetizado – deveria ser obrigado a lê-la e (hipótese forte) entendê-la. Heckman tem dedicado uma parte expressiva de sua pesquisa à compreensão dos efeitos da educação no desenvolvimento humano e, nessa entrevista, diz algo aterrador: muito mais importante do que distribuir renda para um adulto, é ‘distribuir’ habilidades entre as crianças. Ou seja, ele foca em uma etapa anterior, normalmente negligenciada. Em suas palavras: “antes de discutirmos a redistribuição de dinheiro de um adulto para o outro, precisamos pensar em prover crianças com habilidades básicas para o mercado de trabalho no futuro.”

 

Sua fala nos força a concluir que  a política redistributiva brasileira está errada. Estamos esquecemos o fundamento essencial da redistribuição, isto é, o provimento de habilidades básicas na primeira infância. Em vez disso,  preferimos  focar na transferência de renda.  A lógica  é simples: a intervenção educacional deve se dar até os 5 anos de idade — investimento na educação básica. Os leitores bons de memória, recordarão de meu artigo no mês passado, onde, discuti uma política simples de intervenção nos primeiros anos de estudo (link aqui: https://www.wscom.com.br/professor-erik-figueiredo-analisa-poder-transformador-da-educacao/). Em suma, essa seria a política ideal, o que os economistas chamam de “primeiro melhor”. A obtenção de habilidades voltadas para o mercado de trabalho gera uma transformação expressiva no indivíduo e nos seus descendentes, interferindo na chamada mobilidade intergeracional (dos pais para os filhos). Se isso ocorrer, deixaremos de discutir desigualdade de renda, pois, ela se tornará irrelevante com o passar do tempo.

 

Contudo, essa política gera um problema de ordem prática: dado que esse procedimento não tem sido adotado pelos países, em especial, os em desenvolvimento, teremos uma massa de pessoas  que já passaram da primeira infância sem experimentar esse tipo de intervenção. O que fazer com eles? Para muitos, esse grupo de pessoas justificaria as políticas redistributivas, pelo menos no curto prazo. Heckman discorda e, mais uma vez, mostra-se inovador. Para ele não há geração perdida. Os estímulos aos desenvolvimento cognitivo podem ser adaptados para crianças maiores, adolescentes e até adultos. Ou seja, tudo se dá via educação. Não há a opção: “tadinho, não recebeu educação básica, logo, necessita de transferencia de renda”. Pois, caso opte pela via da transferência de renda, esse indivíduo se tornará um adulto, sem habilidades básicas e com elevada vulnerabilidade à pobreza. A política pública nunca poderá abandoná-lo.  Aos 20 anos solicitará uma quota na universidade e/ou na inserção no mercado de trabalho. Aos 30, reivindicará seu direito à moradia. Na velhice, brigará pelo seu direito a se aposentar, mesmo sem ter contribuído para a previdência.

 

Nesse ponto, alerto para outra nuance das idéias do Heckman: o tipo de educação. Ele não está falando de anos de estudo acumulados via educação continuada. Esse coitadismo educacional deve ser jogado no lixo da história. As pessoas devem se preparar para o mercado de trabalho. A formação de ignorantes pseudo politizados só contribuem para o nosso fracasso como nação. James Heckman deveria ser conduzido ao posto de patrono de nossa educação.

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