A Agência Nacional de Mineração (ANM) passou a exigir inspeções diárias em barragens como as de Brumadinho e a de Mariana. A expectativa era que a fiscalização acontecesse apenas em Minas Gerais, mas o órgão resolveu ampliar a determinação para todo o Brasil. As mineradoras responsáveis por 88 barragens a montante no país vão receber um ofício que altera as regras para divulgação dos resultados das inspeções nas estruturas.
As empresas, que antes faziam relatórios a cada 15 dias, deverão lançar as informações no sistema integrado de gestão e segurança de barragens de mineração diariamente. “A gente está sentindo que alguns parâmetros estão fugindo à nossa análise. Para barragens com alteamento a montante, construídas na década de 70, que para uma realidade, e os fatos têm mostrado, que alguma coisa está ocorrendo e que tem alguma coisa que nós não estamos medindo. Então o objetivo é tentar entender o que que pode ser melhorado, visando justamente antever eventuais alterações de estabilidade das estruturas”, disse o gerente regional da ANM, Jânio Alves Leite.
Minas é o estado que tem o maior número de barragens a montante considerado ultrapassado por especialistas. São 41 no total. Todas possuem classificação de dano potencial alto, o que significa que elas podem causar muitos prejuízos ambientais, econômicos e sociais em caso de rompimento. A Agência Nacional de Mineração admite que a fiscalização das barragens em Minas Gerais sempre foi deficiente pela falta de profissionais. Agora depois da tragédia em Brumadinho, o reforço apareceu. No setor onde trabalhavam quatro técnicos, hoje são oito. Outros quatro devem chegar na semana que vem.
O engenheiro de minas, geólogo e professor da Universidade Federal de Minas Gerais, Evandro Moraes da Gama, disse que o monitoramento de barragens normalmente é feito com dois tipos de piezômetros, aparelhos que medem o nível de água e a pressão que ela exerce na estrutura. A inspeção diária, segundo ele, significa um avanço, mas ainda é pouco.
“É interessante, acho aconselhável, não é que não adianta nada, mas eu não acho suficiente. Eu acho que deveria ter um conjunto de especialistas para se dar um diagnóstico de uma barragem. Eu considero uma barragem de rejeitos um paciente de CTI. Precisa dar o máximo de instrumentação possível. Então essa instrumentação só de piezômetro aberto e de câmara fechada não comporta”, disse o professor.