A proposta preliminar que a equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, apresentou para a reforma da Previdência é bem mais dura que a versão do governo Michel Temer e dificilmente passará ilesa pelo Congreso. Eis os principais pontos do documento, revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo:
A economia prevista pelo projeto ao longo de dez anos é estimada em R$ 1,3 trilhão, bem mais que os R$ 800 bilhões da proposta inicial do governo Temer, reduzidos pelo Congresso a menos de R$ 400 milhões, à medida que ela foi sendo desidratada pelos parlamentares.
A proposta de Guedes até supera as expectativas do mercado, que vinha falando em economias de US$ 1 trilhão em uma década. A dúvida é até que ponto ela resisitirá no Congresso. Vários dos pontos propostos já eram previstos no projeto encaminhado pelo governo Temer, mas acabaram dizimados nas negociações parlamentares.
Entre eles, estão a criação de uma idade mínima idêntica para homens e mulheres, a desvinculação do BPC do salário mínimo e regras duras de transição que acabaram suavizadas. A proposta de Guedes, ainda mais dura, vem obviamente com alguma gordura para a negociação.
Um obstáculo será a articulação política diante de uma legislatura ainda novata, em que vários parlamentares foram eleitos graças à capacidade de mobilização nas redes sociais, mas estão desacostumados a lidar com temas impopulares que envolvem perdas para o eleitorado, como a reforma da Previdência.
O próprio Bolsonaro, autor de várias declarações ambíguas sobre o tema, não examinou o texto em detalhes. Seu endosso será essencial para garantir o apoio não apenas de deputados e senadores, mas também da população que acaba de elegê-lo e precisa ser convencida da necessidade do sacrifício em nome do futuro do país.
Cada grupo de pressão tentará garantir seu quinhão de concessões. Dependerá da capacidade de articulação dos governistas a manutenção da maior parte do texto intacta. Por ter ainda de enfrentar o roteiro de comissões e prazos constitucionais, tanto na Câmara quanto no Senado, não há como, numa perspectiva realista, imaginar a aprovação de nada antes do segundo semestre.
Há uma sabedoria estratégica em apresentar uma proposta mais dura ao Congresso. Como a pressão pela aprovação das mudanças é enorme, dificilmente as concessões implicarão um texto tão desidratado quanto o do governo Temer. O que passar deverá ser mais benéfico para as contas públicas e para o país. A primeira e mais importante batalha do governo Bolsonaro acaba de começar.