As mudanças recentes no mercado de trabalho podem trazer importantes implicações sobre o estado da Paraíba, mas devem ser analisadas com cuidado, pois a composição do emprego e da renda na economia local ocorre de modo distinto. Um dos aspectos a serem considerados é a distribuição da atividade econômica entre as 23 microrregiões, tendo em vista que há diferenças marcantes entre o litoral e o sertão, ponderando as vocações naturais e a atração e concentração de recursos financeiros, aspectos que reverberam diretamente sobre as condições de trabalho e de geração de emprego e renda.
Do ponto de vista da economia regional, o estado da Paraíba localiza-se com o 4º menor PIB, o que expressa cerca de 6,58% de participação no Nordeste e 0,94% na economia nacional, de acordo com os dados do IBGE para o ano de 2016. O valor adicionado por atividades produtivas destaca o setor de serviços com participação de 80%, indústria com 16% e agricultura 4%. Na perspectiva da economia local, a microrregião de João Pessoa apresenta a maior participação no PIB paraibano, com cerca de 43%, seguida pelas microrregiões de Campina Grande (16%), Sousa (3,6%) e Cajazeiras (3,5%). As demais microrregiões apresentam participação menos expressiva. Tais indicadores alertam para a concentração marcante da economia paraibana em torno de duas microrregiões de importância estratégica para o estado, fato que também pode trazer consequências sérias quanto ao mercado de trabalho e a distribuição de renda. São as microrregiões de João Pessoa e Campina Grande que atraem os maiores recursos e têm mais capacidade de arrecadação própria por meio de sua dinâmica produtiva, serviços diversificados e com mais oportunidades de emprego, constituindo-se naturalmente em centros de atração de pessoas em busca de melhores condições de vida. A economia caminha para o fortalecimento do setor de serviços em todo o mundo e, tendo em vista a relevância desse segmento para a economia paraibana, é crucial a incorporação de recursos mais avançados no campo da tecnologia da informação e comunicação para tornar-se mais competitivo.
No tocante aos aspectos que envolvem o mercado de trabalho, utilizando-se como referência os dados consolidados de 2017 da RAIS, a Paraíba gerou 638.270 empregos formais, aumento de 0,57% em relação ao ano anterior. Os setores de serviços, administração pública, agropecuária e extrativa mineral registraram resultado positivo, enquanto a indústria de transformação e serviços industriais de utilidade pública, comércio e construção civil tiveram queda nas contratações, com destaque para este último que obteve retração de quase 10% no emprego. A maior parte dessas ocupações formais encontram-se na microrregião de João Pessoa (51%), Campina Grande (17%), Patos (2,86%), Sousa (2,16%) e Cajazeiras (1,67%), o que expõe uma desigualdade na criação de emprego formal no estado.
Por outro lado, a partir dos dados da PNAD-C, em 2017, considerando-se todos os tipos de trabalho, cerca de 40% das pessoas estavam ocupadas no setor privado, sendo 23% com carteira de trabalho assinada e 17% sem carteira assinada, sendo o setor de serviços o que mais emprega, incluindo-se comércio e administração pública. Do total de ocupados em alguma atividade, 27% estão classificados como “Conta própria”. Analisando estas categorias de emprego, a renda média do trabalhador paraibano, para todos os tipos de ocupações, alcançou R$ 1.446,00, sendo os maiores valores observados para os que possuem carteira de trabalho assinada, enquanto os ocupados por conta própria, trabalhadores domésticos e os sem carteira de trabalho assinada obtiveram remunerações abaixo do salário mínimo.
É importante destacar que estes são valores médios e que uma análise minuciosa por microrregião demonstrará que a renda tende a ser maior nos centros mais desenvolvidos socioeconomicamente. Este rápido panorama da economia e do mercado de trabalho do estado da Paraíba expõe desafios a serem enfrentados no presente com o intuito de diversificar, estimular e apoiar atividades produtivas que tenham capacidade de atender amplamente as necessidades e particularidades das microrregiões, ponderando que a estrutura produtiva capitalista vem passando por transformações importantes que impactam do global ao local, sendo necessário integrar os diferentes setores da economia com as novas tecnologias que podem promover desenvolvimento econômico e social. A manutenção de uma estrutura produtiva centralizada pode ser perversa por atrair e concentrar pobreza em um estado que historicamente tem alterado pouco a estrutura econômica e social de modo a transformar sua presença no cenário regional, embora tenha apresentado crescimento relativo positivo.
Rejane Gomes Carvalho*
Professora Adjunta do Curso de Economia/UFPB. Doutora em Sociologia do Trabalho/PPGS/UFPB.
Realiza pesquisas sobre mercado de trabalho, políticas públicas e economia paraibana.