Apesar dos perigos que envolve os ritos da adivinhação, vou em busca de presságios para o ano de 2019. Quem primeiro aparece é o velho Nostradamus para novamente vaticinar o fim do mundo. “Quando o Sol ficar completamente eclipsado, passará em nosso céu um novo corpo celeste”, diz o vidente francês. Os crédulos logo se assustam, mas, embora seja certo que um eclipse solar acontecerá em 2019 e que um asteroide de nome 2002 NT7 cruzará os céus, é consenso entre os cientistas que ele passará tão longe que não causará qualquer dano ao planeta azul. Então deixemos de lado os adivinhos e vamos em busca do horóscopo chinês no qual cada ano é regido por um animal. Assim, 2019 será o ano do Porco. A previsão é alvissareira, pois o ano Porco é um ano de abundancia, em que predomina um clima favorável para os negócios e a indústria em geral. A previsão cai como uma luva para o Brasil, afinal, o presidente eleito, Jair Bolsonaro, vai receber um país com inflação baixa, taxa de juros reduzida e em processo de retomada do crescimento econômico, bastando apenas realizar as reformas necessárias, como a da Previdência, para que a economia possa deslanchar. Mas aqui é preciso lembrar que o porco é chegado a excessos, é profícuo em gastos e dado a movimentos impulsivos que podem comprometer os planos e a abundância prevista.
Todavia, estamos na Bahia e por aqui quem rege os destinos do país são os orixás e já se sabe que o poderoso Ogum é quem vai reger o ano de 2019. Ogum é santo guerreiro que enfrenta os inimigos e não desiste do seu objetivo, mesmo diante de grandes obstáculos. E Jair Bolsonaro vai precisar de toda a força de Ogum para desviar-se dos rompantes autoritários da extrema direita e de projetos reacionários tipo Escola sem Partido. Vai precisar também da autoridade de Ogum para conter a arrogância e desfazer as trapalhadas dos “jairzinhos”, que por palavras e atos tem colocado o presidente em diversas “saias justas”. Mas Ogum é patrono da agricultura e da tecnologia e talvez ajude o Brasil dar um salto neste e em outros setores.
De repente, enquanto especulo o futuro, dois pequenos seres se materializaram. Um deles está vestido de vermelho, tem um pequeno tridente nas mãos e diz que este será um ano infernal. Avisa que Bolsonaro não terá paz no Congresso, que ficará entre a oposição ferrenha dos partidos de esquerda e a política de resultados do Centrão e que o famigerado Renan Calheiros tentará presidir o Senado, para fazer que nada mude no Brasil. Sem maioria no Congresso, diz o diabinho irritado, será impossível governar. “Nada disso! Você é dessas cassandras que só preveem o caos”, grita o outro pequeno ser materializado, que não escondia suas asas. Com voz angelical e doce afirma que esse será um ano maravilhoso, pois o país se modernizará e passará a crescer de forma sustentada. Diz que nos 6 primeiros meses Bolsonaro terá o apoio maciço da população e que o Congresso terá de aprovar suas propostas, lembrando que a única restrição grave ao crescimento é o déficit nas contas públicas que pode ser sanado com os cortes nas despesas e com as propostas que a competente equipe econômica está anunciando. E conclui: “não vamos colocar na reforma da Previdência todo o sucesso do governo, pois ela resolve apenas o futuro. O presente pode ser resolvido com a reforma tributária, com a ampliação do crédito, a desburocratização, as concessões e privatizações, a abertura comercial e o estimulo ao investimento”.
O cheiro de enxofre e o ar catastrófico do diabinho não me impressionaram, tampouco acreditei na peroração otimista do seu opositor angelical, afinal a realidade é sempre mais surpreendente do que as previsões, por isso não se deve dar muito crédito a videntes do passado, tampouco a anjos, demônios e muito menos aos economistas.
GUEDES E OS BANCOS
O ministro da Economia, Paulo Guedes, vem falando de cortes em todos os setores, inclusive na indústria e no comércio, que seriam afetados com a redução dos recursos do Sistema S. Guedes também diz que vai estimular as competição em todos os setores e reduzir subsídios e financiamentos do governo aos empresários. Mas até aqui nenhuma palavra sobre os bancos. Nada sobre o absurdo spread bancário, que faz com que um banco pague ao poupador rentabilidade de 0,3% ao mês e empreste esse dinheiro a 5%, algo como 15 vezes mais. Nenhuma palavra sobre o fato de 5 bancos dominarem cerca de 80% do mercado de crédito num cartel sem precedentes no mundo. O gasto de publicidade desses gigantes é estratosférico, pois a competição se dá apenas na televisão com a propaganda.
A BAHIA DESCONHECIDA
Quando se fala em economia, ainda há uma Bahia desconhecida. O leitor pode não saber, por exemplo, que Camaçari é a 5a maior economia do Nordeste, sendo superada apenas por Salvador, Fortaleza, Recife e São Luís; Que 45% do PIB da Bahia está concentrado num raio de 100 quilômetros de Salvador; Que a economia do município de Luiz Eduardo Magalhães já é maior do que a economia de Ilhéus ou de Itabuna; Que Salvador, que parece uma cidade especializada só em serviços, é a 2a maior cidade industrial da Bahia com um PIB quase do tamanho de Camaçari; Que 7 municípios da região Oeste são responsáveis por quase 20% do PIB agrícola do Estado. Que alguns munícipios dobraram o PIB por causa dos investimentos em energia eólica e solar. Os dados são do IBGE e da SEI relativos ao ano de 2016.
REFORMA DO SECRETARIADO
O governador Rui Costa está fechado em copas e não dá qualquer indicação sobre a anunciada reforma do seu secretariado. Mas há quem garanta que o vice-governador João Leão pode trocar de pasta, que o deputado Bebeto Galvão do PSB, que não se reelegeu, vai assumir uma secretaria e que o Chefe da Casa Civil, Bruno Dauster, vai trocar a Casa Civil pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico. E que haverá mudanças nas secretarias de Turismo e Cultura. Mas é tudo “mimimi”, até agora o governador não deu um pio sobre o assunto.
VIA BAHIA
A concessionária Via Bahia, que administra a BR 324, fez o balanço de 2019: ampliou a iluminação em Salvador e Simões Filho, colocou postes e luminárias. Muito bom, mas os melhoramentos na rodovia, a nova pista, a melhoria nos acostamentos ficam para quando?
É HORA DE COMEMORAR
O último dia do ano/ Não é o último dia do tempo/ Outros dias virão (…) Recebe com simplicidade este presente do acaso./ Mereceste viver mais um ano. Desejarias viver sempre e esgotar a borra dos séculos./ Teu pai morreu, teu avô também./ Em ti mesmo muita coisa, já se expirou, outras espreitam a morte,/ Mas estás vivo. Ainda uma vez estás vivo,/ E de copo na mão/ Esperas amanhecer.
Com o poema Passagem do Ano, de Carlos Drummond de Andrade, desejo a todos um Ano Novo de muita alegria e paz.