Na noite da última quarta-feira, sentado na principal cadeira do plenário do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE) protagonizou uma rápida discussão com Lasier Martins (PSD-RS) para abrir as votações na Presidência da Casa. O cearense ganhou a batalha pela urgência do projeto que prevê o fim do segredo dos votos dos parlamentares, despachando o texto para as comissões. Por detrás da tensa tertúlia, estava a guerra de blefes estridentes pelo comando do Congresso e contou com um beneficiado direto: o emedebista Renan Calheiros (AL). Pré-candidato na disputa, o alagoano tenta ganhar apoios de políticos que se afastariam do cacique em uma sessão aberta.
O movimento pelo comando da Casa não foi o único de uma semana repleta de episódios mais agressivos e até certo ponto confusos mesmo para observadores mais experientes. Naquela mesma noite do debate entre Eunício e Lasier, um grupo de sete senadores independentes se reuniu na casa de Kátia Abreu (PDT-TO). Há duas semanas, 15 parlamentares iniciaram um movimento para isolar Renan a partir de uma candidatura alternativa. Os avanços das conversas, entretanto, esbarraram na relutância de políticos, como a própria Kátia, em abandonar o emedebista. A eleição do Senado e da Câmara está marcada para o primeiro dia de fevereiro do próximo ano.
Renan, por sua vez, não admite a candidatura e só deve fazer tal movimento, se tiver certeza da vitória na corrida. A senadora e líder do MDB na Casa, Simone Tebet (MDB-MS), disse, inclusive, que o partido só vai anunciar como candidato aquele que garantir os 41 votos necessários para se eleger ao cargo. No entanto, a campanha tem sido feita nos bastidores, em que cada um dos interessados coloca em prática estratégias próprias para angariar aliados. No caso de Renan, o nível de desgaste com a candidatura já foi mote de conversas. O senador eleito Cid Gomes (PDT-CE) foi o primeiro a alertar. O emedebista, porém, sabia o quanto pode sair da corrida arranhado e, assim, tem dúvidas sobre a candidatura, pelo menos por ora.
O que está em jogo na disputa é o comando de um poder capaz de colocar em votação ou retirar de pauta projetos importantes para o Executivo e para os governos estaduais e indicações políticas. Apenas de cargos comissionados no Senado, há mais de duas centenas de vagas de livre provimento na Mesa Diretora da Casa — liderada pelo futuro presidente escolhido. Entre as propostas que devem ser analisadas pelos parlamentares no ano que vem estão as reformas da Previdência e a tributária, além do orçamento para 2020. O futuro governo, inclusive, já se articula para impulsionar o debate e acelerar a análise de outros textos, como o do Escola sem Partido e o do desarmamento.