Cientistas chineses descobriram que ao menos uma espécie de aranha amamenta seus filhotes, de uma maneira muito parecida com os mamíferos, e com uma substância riquíssima em proteína – bastante similar ao leite. Conforme explicou à BBC News Brasil o pesquisador Zhanqi Chen, do Jardim Botânico Tropical de Xishuangbanna e um dos autores da pesquisa científica – publicada nesta quinta-feira pela revista Science –, a descoberta da aranha que amamenta ocorreu por causa de um comportamento que intrigava os cientistas.
O fato de que, na espécie de aranha saltadora Toxeus magnus, filhotes tendem a ficar muito tempo no mesmo ninho da mãe, mesmo quando já crescidinhos. “Isso é incomum em aranhas saltadoras”, afirma Chen. “Então, levantamos a hipótese de que a mãe poderia fornecer cuidados maternais duradouros”, prossegue. A questão, então, passou a ser: se elas fazem isso, como fazem? E por quanto tempo?
Munidos de tais perguntas, os pesquisadores foram à observação. Descobriram que os filhotes da Toxeus magnus não deixam o ninho até a terceira semana de idade. Nessa altura da vida, os bichos já têm o comprimento de 3,5 milímetros – essas aranhas, muito parecidas com formigas, nascem com 0,9 milímetro. “Por outro lado, em todo esse tempo, a mãe nunca foi observada levando comida (como moscas de fruta) para o ninho”, relata o pesquisador. “Isso nos deixou confusos sobre qual seria a fonte de alimentação da prole.”
Chen disse que a equipe, então, formulou três possibilidades – de acordo com aquilo que costuma ocorrer no reino animal. A alimentação poderia ser provida via regurgitação, pela mãe. Ou os filhotes de aranha poderiam ingerir ovos tróficos – ovos não fecundados que são postos justamente para servir de alimento, a exemplo do que ocorre com abelhas e formigas, por exemplo. Ou ainda alimentação fecal. “Entretanto, o registro de observação rejeitou todas essas hipóteses”, conta o cientista.